Se
ele me ama, o cachorro late...
Os
latidos indicam que o collie marrom do 9. andar
chegou há pouco do passeio. É um cachorro garboso,
altivo e sofisticado que estaria mais feliz em uma
casa espaçosa, com jardins e quintal. Sente-se
constrangido no elevador estreito, no apartamento
acanhado. Só o rapaz gorducho e desengonçado que,
na falta de uma jovem namorada se exibe com ele pelas
ruas do bairro, parece não entender os apelos do animal.
O collie do 9. andar não silencia nem mesmo nas horas
mortas.
Se ele me adora o homem assobia....
Dois copos de vinho na mesa de cabeceira, um sapato de
salto jogado no carpete, um cinzeiro lotado. As flores
vermelhas da paixão a exigir um vaso com água,
rápido. O aceno para a sombra lá embaixo, um beijo
soprado que desce bêbado entre postes e árvores,
um calor forte no peito, um assobio bem ao longe.
Se ele me odeia a porta bate.
O caminhão de lixo passa pesado, cansado, pela rua
estreita. Bloqueia a rota dos que seguem para o lar,
o bar, a boate, o motel. O motorista, que nas noites
altas recolhe trapos, cacos, andrajos, tem o corpo
moído. No boteco da esquina deve ter sobrado
um café requentado. Ele desliga o motor, pede um
tempo para os auxiliares e bate a porta.
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