UMA
GORDA PARANÓIA
|
Carolina
Marábes
|
Naquela
maldita noite, eu estava dormindo na casa do meu namorado.
Sonhei com uma barriga gigante, gorda, obesa, enorme! Na dobra do umbigo havia um piercing que mal dava para notar, mas eu sabia que ele estava lá. Eu via a banha cobrindo mais que a metade do enfeite e esticando o buraco por onde ele estava enfiado na pele. Por esse buraco à mostra escorria um fio de gordura derretida pelo calor. Acordei com ânsia. Meu sonho foi nojento, pavoroso! Logo eu que sempre controlei meu peso e almejo, todos os dias, por uma anorexia, havia sonhado com dobras e dobras de gorduras. Pesadelo! Não conseguia dormir. Aproveitei a ânsia, gerada pela lembrança do sonho, e enfiei o dedo na garganta forçando um vômito. Não consegui. Meu estômago estava vazio, pois não costumo jantar. Inapetência, é claro! Desesperada com a visão das banhas, e impotente diante daquela barriga enorme crescendo cada vez mais na minha memória, eu tomei mais uma cápsula de Anfepramona. A quinta do dia. Dormi no sofá ao lado de um copo com água pela metade. Acordei às três horas da manhã, dessa vez o meu sonho tinha extrapolado todos os limites; Dr. Gastão havia morrido. Eu suava, gemia, e tremia. Era sonho, mas eu acreditei (era muito real e não posso perder o Gastão), acordei meu namorado e contei meu sonho, ele quase me matou, me chamou de maluca e voltou a dormir. Só que eu tinha certeza; o Dr. tinha morrido. Não consegui mais dormir. Fui trabalhar (caindo de sono) e liguei no consultório do Dr. Gastão para ter certeza que ele estava vivo. A secretária me atendeu, mas é claro eu desconfiei da voz dela e pedi pra falar com o Gastão. Ele estava vivo... Rabugento, mas vivo. Fim dos meus problemas! Meu clínico geral e também minhas receitas (feitas em série na gráfica - iguais pra todo mundo) de Fenproporex, Diazepan e Cáscara Sagrada estavam a salvo. Senti grande alívio. Aproveitei e encomendei mais alguns frascos de felicidade em cápsulas. Cada frasco contém vinte cápsulas, eu deveria tomar duas por dia, mas prefiro pecar pelo excesso que pela privação e tomo quatro cápsulas. Não importa se estou pesando 30 ou 220 quilos, tomo a mesma dose. Eu sei que posso morrer com uma overdose desse coquetel, mas só me importa que serei uma morta magra. |