LADRÃO NOTURNO
Bárbara Helena
 
 
O calor é como uma segunda pele que se espalha na noite inacabada.

Todos dormem.

Apenas meu olho seco contempla a realidade escura.

O gnomo também dorme, como dormem os gnomos, de olhos abertos e vagos.

Dormem as sereias e as iaras. Dormem as dríades, as ondinas. Todas as criaturas da água estão deitadas nas camas encantadas do sereno.

Dormem os faunos, exaustos de perseguir as ninfas. E as ninfas, lânguidas repousam ao lado deles, seus cabelos de seda espalhados na terra também adormecida. Dorme a terra, embalando as sementes no ventre secreto.

Tudo dorme ao meu redor. Mesmo a noite serena. Mesmo o calor de fogo. Mesmo as estrelas que já se foram, mesmo a luz que percorre o espaço está dormindo há séculos e não sabe.

Há um sono abissal que me circunda, que me envolve enquanto quieta, vigio.

Vigio à espera de que alguém desperte, de que o sono implacável em que estão todos mergulhados seja apenas mentira. Seja só ilusão.

Talvez estejam todos apenas encantados. Apenas esperando a hora.

Apenas me esperando adormecer para viver a vida que eu espreito.

A vida que eu espreito aqui, dentro da noite.

A vida que eu roubei dos que hoje dormem ao meu redor

 
 
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