TANTOS
BEIJOS
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Sonia
Lencione
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Posso
começar contando dos beijos de minha meninice.
Os de meu pai não me lembro bem. Na educação rígida de outrora não cabiam "melações" - mas bem que depois ele gostava muito de meus beijos (acho que fui a filha que mais o beijou). De minha mãe recordo seus olhos azuis cheios de amor e suas mãos tão quentes. - Se houve beijos confesso que os esqueci. Lembro-me dos beijos das conhecidas da família e das velhas parentes. Demagogas velhotas tantas vezes. Aquela frase trivial: - Como você cresceu! As mãos sobre a minha cabecinha achatando-me. E frases bem incomuns como: - E os pés desta menina melhoraram Marieta? Então minha "noninha" descalçava as botinhas de meus pés e expunha meu defeito congênito. Eu ficava fula de raiva e queria escondê-los (naquele tempo essas coisas tinham grande importância para mim). Hoje em dia tudo isso já foi superado e perdôo do fundo d'alma a velhinha tão querida. Acho mesmo que ela mostrava às pessoas os meus pés tortos por pura simplicidade e ignorância. Não entendia ela nadinha de psicologia infantil. Lembro-me desses fatos porque eles fazem parte do "pacote de lembranças". Estão de tal modo agregados aos beijos melosos daquelas donas. E os beijos dos avós. Foram bons, verdadeiros. Os dos tios e tias, bons também. Ah, quantos beijos de despedidas e reencontros aconteceram! Os manos, era na base de tapas e beijos. Tempo bom demais! Os gatinhos lá de casa eu também cobria de beijos e custou-me uma "toxoplasmose" mais tarde. Beijei flores e retratos, santinhos e Jesus crucificado. Pela vida afora beijei delicadamente as crianças. Já na mocidade houve beijos diferentes. Anos de namoro, tantos abraços e beijos. Acho mesmo que os beijos de amor são a marca registrada do nosso casamento. Meus filhos, os meus beijos lhe cobriram sempre como verdadeiras chuvas de néctar. Que delícia é cobri-los de beijos e ser beijada por eles também! Não acredito que mimo demais estraga os filhos, os meus foram criados assim e não os estragamos. Ah, os beijinhos de cumprimento! Um, dois, três para casar... Beijo de Judas: uma carícia no rosto e um pé nos pisando o coração. Tantos beijos há: os sensuais, com a língua explorando sensações e os românticos, dos eternos enamorados. Beijo selinho, sem compromisso. Beijos nas praças, nos terminais rodoviários, nos aeroportos, no portão, no salão. Garotada se beijando a torto e direito. Casais mais velhos beijando-se discretamente. Viva o beijo! Se ele faz com que movimentemos vários músculos e faz bem à saude. Então viva o beijo! Lógico que somos a favor a essa manifestação de carinho. Quem não gosta de ser acariciado e beijado? |