BEIJOS
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Samuel
Silva
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Andaram
falando de beijos, muito, à minha volta esta semana. Sou beijoqueiro confesso,
não nego, por que negar? Ressalto e ressalvo que falo aqui do beijo de língua,
não confundam por favor com outros de naturezas mais castas. Não trato de
beijos de pai-filho, amigos, bitocas...
Beijo é o ápice da conquista, para os homens: dali em diante é só uma questão de seguir as boas regras que se vai mais ao fundo, profundo. A boca aberta, entregue à lascívia de minha língua, denuncia a entrega de tudo o mais, mesmo que à prazo, em suaves prestação pagas a cada evento, encontro. Beijo dado, beijo recebido, onde estarão nossas mãos? Que pressão estará fazendo à frente nossos quadris? Em que espaços e nesgas buscam lugar nossas pernas? Não é o tema, não falarei disso. O tema é beijo, livre há de ser o beijo, quando os dou. São descompromissados, encerram-se cada um em si mesmos, ainda que possam resultar em algo mais, outros beijos, bolinações, penetrações, bofetões, o que seja! Feche os olhos por um momento e sinta cada detalhe dos beijos que já deu por aí. tudo bem, não é possível lembrar, são muitos, então escolha um, o último ou o primeiro, ou o mais marcante, para bem ou para mal, não importa. Concentre-se. Keep the focus. Sentir a carne macia dos lábios dela, frouxos, prendê-los nos meus lábios. Abrir seus lábios lentamente, por quase soltá-los e por ação da ponta de minha língua, apenas roçando a pele fina. Invadir tua boca e dentro abraçar sua língua com a minha, em movimentos que lembram capoeira, fintas, negaceios, movimentos de boxe, punch, um-dois, jabs, movimentos de luta livre, força e pressão. Minha boca aberta engolindo a tua, meu ar roubando seu ar, sugando vampiro tua energia, tua resistência final, e depois te deixando respirar como misericordiosa benesse, como se te permitisse respirar, como fosse senhor de teu ar. Teu destino é ser sorvida, sugada, deglutida, mordida, lambida, enfim, beijada por mim. Quem prova o vinho em degustação apenas pratica o simulacro do beijo no vinho: sente-lhe o aroma, percebe-lhe a cor, toma-lhe o gosto, verifica sua temperatura, usando quase todos os sentidos: olfato, visão, paladar e tato; quem beija faz mais e melhor, porque com um só órgão cheira, vê, prova, toca e ouve. Cheiro teu olor, deixo-o subir de minha boca às minhas narinas, sinto teu cheiro de dentro de você e nada pode disfarçá-lo, ocultá-lo, transmutá-lo. Vejo tua entrega, teu corpo teso buscando repouso no meu, vejo tuas bocas à procura, vejo você como quero te ver e não queres como queres ser vista: imagem não é nada, sede tu mesma. Provo teu gosto, tua saliva, tuas enzimas, teus hormônios, teu doce, teu sal e teu amargo azedo prazer de ser a minha outra boca. Toco teus lábios como desejo tocar teus Lábios, toco teu céu da boca como quero te fazer céu com minha boca, toco tua língua e nela reconheço tua carne, tua língua pula, é grilo. Grilo? Ouço teus gemidos antes de você mesma, ouço teus sons mais guturais, antes de você modulá-los, civilizá-los na voz. Teus gemidos, teus ofegares, tuas renúncias, teus nãos e sins. Ouço você melhor do que você mesma. Depois? O dilúvio! |