SMACK!
Roseli Pereira
 
 
Eu beijo, tu beijas, ele beija. Nós beijamos, vós beijais, eles beijam. E se eu conheço bem o ser humano, isso vai continuar assim pra todo o sempre. Em qualquer tempo de verbo e em todos os idiomas.

É por essas e por outras que eu não consigo entender por que é que o beijo anda tão desprestigiado na mídia.

No cinema, por exemplo, o beijo era astro de primeira grandeza. Até ajudou a enriquecer Hollywood, se é que não fez isso sozinho. Sim, porque a maior parte das pessoas ia assistir a quase todos os filmes só pra ver o beijo. Ou pra beijar. Ou pra fazer as duas coisas. Mas, qualquer que fosse o objetivo, todo mundo pagava o ingresso direitinho.

Só que, de uns tempos pra cá, não tem mais beijo que se preze no cinema. Nem na tela, nem na platéia. Na tela, os beijos perderam seu espaço para as explosões, lutas e perseguições. Mas isso acabou assim que as explosões, lutas e perseguições foram substituídas por explosões, lutas e perseguições com efeitos especiais. O que mudou tudo, diga-se de passagem.

Não é à toa que na platéia também não tenha mais beijo. Afinal, quem é que consegue ficar beijando sossegadamente com tanta explosão, luta e perseguição em volta?

Isso sem falar no que fizeram com o beijo de novela. Aquele, que antes era o galã do final feliz e agora só faz uma pontinha no começo das preliminares. E não é por nada não, mas já andei vendo umas explosões, lutas e perseguições em novela. Será que a gente vai ter que deixar de beijar na frente da televisão, também? Pois imagine só o que isso pode representar para o futuro da reprodução humana.

Não que eu seja minimamente romântica ou saudosista, mas pelo menos até onde a minha vista alcança, o único beijo que continua fazendo o maior sucesso na mídia é o beijo no coração. Sim, o famoso beijo naquela bombinha ensangüentada que tem a péssima mania de acumular colesterol ruim (irgh). E o povo lá, beijando (irgh de novo).

Bem, antes que eu comece a repetir tudo o que penso sobre esse assunto, é melhor relaxar e assistir Cinema Paradiso de novo. Tá certo que esse filme não tem nenhuma explosão, luta ou perseguição, o que empobrece muito o enredo. Mas, pra compensar, tem uma seqüência de beijos que é um arraso.

 
 
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