RALENTANDO
Marco Aurélio Brasil Lima
 
 
Com o rosto imerso na tina de água gelada, a mente era uma grande confusão de sons, imagens e sensações. As moedas tilintando ao atingir o chão, o escárnio dos homens, aquele olhar e a sensação que queimava em seus lábios e que ele tentava aplacar com a água, mas em vão, em vão.

Esfregou a manga nos lábios, na esperança ingênua de que aquilo apagaria as reminiscências do beijo. Quem sabe mais água? O calor daqueles lábios, aquele olhar.

Jamais imaginara que o arrependimento por um beijo dado pudesse ser tão maior que pelos beijos que não deu. Se não fosse a confusão em sua mente reconheceria que havia já algum tempo que não se arrependia pelos beijos que não dava, mas não.

Oh, aquele olhar, aquele olhar.

Saiu à rua. As pessoas passando fizeram com que ele cobrisse a boca, como se fosse visível a marca daqueles lábios, já que o calor era intenso, a sensação não o deixava.

Aquele olhar: Judas, com um beijo me trai?

A ingênua esperança de libertação foi que o fez enforcar-se.

 
 
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