Falava de
sonhar com um beijo,
um beijo pra se sonhar levitando
e saber-me num campo, sobre o campo verde,
pairando sobre o verdor da relva e de árvores
onde me sentir protegido
porque ao natural saberei sempre amar mais,
amar demais e demais me entorpecer dos teus lábios.
Um beijo, assim sonhado, há que ser por muito esperado
e desejado como o desejo, de alma e pele, de hormônios e luxúria.
Um beijo para estrear-me aos teus olhos, ao teu calor,
ébrio da tua pele e sujeito a me queimar ante teu olhar.
Beijo de expectativa plena, beijo de excitar sempre,
provocar o não-medo do cotidiano, das convenções.
Despertar a inconseqüência, o non sense, a coragem maior
de te absorver de todo, te desejar para a eternidade do instante,
para a ternura do sempre.
Pouco importa se estamos de peles nuas,
pouco importa se meus pés buscam os seus,
que beijarei como se lábios fossem.
Pouco importam minhas mãos atrevidas
que te tocarão a pele
como uma luz varre de lume a escuridão das noites
e faz dia sobre a têmpera
do nosso tesão comungado, somando desejos.
Meus dedos, desbravadores, acharão onde entrar,
e entrarão com carinho porque te faço altar
onde depositar sacrifícios e delírios.
Pouco importa se nossos sexos se atraem
e se buscam e se completam.
Pouco importam os orgasmos simultâneos,
os que em ti me antecedem.
Pouco importa se o desejo satisfeito exige amanhãs.
Importa, sim, que te beijo de lábios,
te tenho em contato, te sorvo em salivas e licores
os mais íntimos, agridoces e inesquecíveis.
Importa, não, se te fecundo ou derramo em ti,
bem fundo, a seiva de vida
que divina me brota.
Importa sim que te beijo.
Eros eu era, como quero ser. E me és Afrodite.
Os veios
do amor assim liberto
alimentam desejos e anseios
para todos os dias advindos.
Importa, sim, que, al primo incontro,
havemos de nos beijar.
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