O PRIMEIRO BEIJO
Luisa Jardim
 
 
Essa é uma história que corre na nossa família e sempre que alguém fala em primeiro beijo eu me lembro dela.

Meu tio, o irmão caçula de meu pai, casou-se com uma mocinha de 17 anos e, com uma bolsa para fazer o Mestrado em Michigan, foram morar nos Estados Unidos.

Ficaram por lá quatro anos e no último desses nasceu Silvia, a primeira filha deles, minha priminha americana (americana só na certidão de nascimento, pois era uma moreninha de cabelos pretos e grandes olhos negros). Ela e eu temos a mesma idade, com diferença de dois meses somente.

Quando Silvia tinha onze meses, a família toda foi ao aeroporto recebê-los, de volta para morarem no Brasil. Minha avó, que ainda não conhecia a netinha, era a mais ansiosa de todos e logo que saíram no portão, foi correndo, pegou a garotinha do colo da mãe e tascou-lhe um enorme beijo ... uma tia, que estava mais atrás, ficou reparando nos olhos arregalados da mãe da menina, que desatou num choro assustado!

Vovó, muito sem graça, devolveu a menina à mãe e recebeu a explicação: era o primeiro beijo que ela recebia na vida (talvez uma experiência assustadora para uma menininha). Àquela época (não sei se hoje ainda é assim), os pediatras americanos desaconselhavam beijar as crianças, o que lhes poderia trazer germes e doenças (e meus tios, pais de primeira viagem, nunca tinha beijado a filha, a não ser nos cabelos e quando ela dormia!)

Essa história foi, durante anos, contada e recontada na família e nós, primos braslleiros, todos sempre sobejamente beijados pela avó e tias, atormentávamos a pobrezinha com brincadeiras e gozações.

Bem ... outro dia, fui visitar o primeiro filho de Silvia, um lindo bebezinho de apenas 10 dias de vida. Minha tia me recebeu à porta, com uma recomendação cochichada: "Cuidado, não beije o rostinho dele. Não sei por quê a Silvia não gosta".

 
 
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