SETE ANOS
Kleber Carrilho
 
 
O fato de não vê-lo há sete anos fez-me aceitar o convite. Além de outras tantas razões. Disse-me que gostaria de tomar um vinho, de preferência um Merlot, do qual ele sempre gostou. E eu até poderia tomar minha tequila, que sempre adorei e ele recriminava.

Lembrei-me de tantas coisas entre o telefonema e o dia marcado. Lembrei-me da nossa primeira vez, que para mim foi a primeira mesmo, lembrei-me dos beijos, de como ele era carinhoso, dos abraços fortes que me dava quando nos encontrávamos.

Naquele tempo, quando tudo começou, éramos duas crianças. Eu tinha dezessete. Ele, vinte. E como nos aventuramos. Fizemos loucuras. Choramos e rimos juntos. Passamos por bons e maus momentos. Meu vestibular. A formatura dele. A morte do meu pai, com ele ao meu lado. É, foram tantas coisas.

E o término. Ele dizendo que não poderia me esperar. Que iria para a França fazer a pós-graduação. Que se eu quisesse, poderia ir depois, quando estivesse formada. E lá se foram sete anos. Ele voltou algumas vezes, mas sempre vinha com uma namorada nova. E eu me recusava a vê-lo com outra.

Mas agora não. Ele tinha me ligado de lá dizendo que viria para me ver. E para resolver alguns problemas também. Tratar da herança do avô.

Imaginei que poderíamos viver tudo aquilo de novo, talvez numa noite só. Uma noite para lembrar e sentir. Os abraços, os beijos, o êxtase, ouvi-lo sussurrar no meu ouvido que me amava.

E eu que, apesar dos namoros e casos esporádicos, jamais tinha estado com outro sem lembrar-me dele. E as amigas dizendo que eu estava perdendo tempo, falando sobre ele a cada ida aos bares. Aprendi a gostar de Merlot só para fazê-lo feliz quando ele voltasse. Ou quando me convidasse para visitá-lo.

No dia da chegada, deu-me vontade de ir buscá-lo no aeroporto pela manhã. Mas não. O combinado era de nos encontrarmos à noite no bar que tanto nos tinha visto felizes. Já não era mais um grande bar, estava meio às moscas, pouca gente o freqüentava. Mas não podia ser substituído por um outro qualquer que nem nos vira juntos.

Cheguei primeiro. Se estava nervosa, não sei. Só sei que, quando ele chegou, deu-me aquela taquicardia gostosa dos apaixonados. Tanto tempo! Disse-me olá, deu-me um abraço, mais forte ainda dos que existiam na minha lembrança. Sentou-se à minha frente, pediu o vinho, provou-o, bebemos. Conversamos sobre a vida, sobre nós. Seu olhar continuava lindo, seu sorriso estava ainda mais misterioso. Tinha aquele mesmo ar de outrora, agora um pouco maduro. Um homem. Falou-me do mestrado, do doutorado, do emprego na ONU. Além da França, viajava como observador para alguns países africanos. Só não falamos dos amores, das pessoas das nossas vidas.

Ainda era ele o homem da minha vida. Depois do vinho, tinha certeza mais que absoluta. Não importa o que aconteceria depois, aquela noite seria nossa.

Saímos do bar abraçados. Sem dizer nada. Às vezes, cruzávamos o olhar. Fomos a pé na direção do prédio onde moro. Passos vagarosos, aquela sensação gostosa de estar ao lado dele depois de tanto tempo.

Na porta do prédio, deu-me dois beijos. Dois muxoxos. Estalados. Um em cada face. E foi-se embora.

 
 
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