O ESTRANHO
Juraci de Oliveira Chaves
 
 
Foi numa tarde de verão. O vento soprava leve e quente.

Karol numa fugida rápida, caminhava em direção ao rio. A areia em brasa, mexia com o solado dos seus pés obrigando-a realizar movimentos rápidos e saltitantes. Sempre que podia, refugiava-se num rochedo, quase no meio do rio.

Estava solitário o local, como gostava. Sentou-se sobre a rocha. Mirou o horizonte e fixou naquele barrado avermelhado em arremate harmonioso com o azul da água. Tinha à sua frente, o mundo. Os olhos pretos semicerrados buscavam por completo aquele espetáculo matizado.

Ali permaneceu por um longo tempo, imersa em seus pensamentos, vez por outra, levando susto sob o toque de piabas a burilar seus pés. Alguns ramos com folhas já amareladas desciam sem luta contra a correnteza.

Karol deslizou-se, ainda vestida com seu vestido de voal, sobre as rochas, escorregou-se até os pedregulhos e fez com a água, cascatas deslizantes, entre os dedos. As curvas do corpo sob a roupa molhada, à mostra, não era preocupante: ninguém por perto. Enquanto brincava, imaginava o percurso longo que fizera aquela água até ali chegar e o quanto ainda faltava percorrer.

Assim permaneceu um longo tempo distraída, esquecida da realidade, fazendo versos aleatórios, quando percebeu alguém se aproximando:

"Pronto, não estou mais sozinha. Já vem atrapalhar o meu sossego" – pensou Karol.

O estranho sentou-se a seu lado, sem pedir licença mas, silencioso, ficou a observar seu próprio rosto, preso às mãos, refletido na água clara. Parecia ilhado em seus problemas.

Ficaram longos minutos, ignorando a presença do outro.

"Deve ser turista, nunca o vi por aqui. Vou embora antes que me arrependa."

Apanhou o chapéu e ao colocá-lo na cabeça, sentiu seu pulso ser algemado por dedos fortes e firmes. O olhar masculino daquele estranho, engolia o seu corpo provocador.

- Fique! Não tenha medo. Preciso de companhia.

Karol contemplou aqueles olhos que pareciam devorá-la viva.

- Quem é você?

- Eu? – disse ele.

- Você! O que está fazendo aqui?

- Moro na fazenda, do outro lado, ali pertinho. Venho sempre aqui. Faz tempo que pretendo aproximar-me de você e só hoje tomei coragem.

- Mas aqui é o meu recanto. Pode ser egoísmo, mas, só meu. Entendeu?

Rodrigo ficou embaraçado, pois ela sentia-se mesmo dona do lugar. Muitas vezes, viu aquela sereia sobre a pedreira a enamorar a natureza. Calmo falou quase sussurrando:

- E meu também. Gosto muito deste lugar. Conhece aquela pedreira ali? Tem uma bela gruta debaixo daquela cascata. Vamos lá?

- Não. Tenho medo.

- De mim?

- Não. Das pedras escorregadias, - desculpou-se a moça.

Os dois ficaram ali por muito tempo. As vezes mudos, com olhares furtivos. Rodrigo sem pestanejar perguntou:

- Posso lhe dar um beijo?

- Beijo? E por que eu iria beijar um estranho? Acho melhor ter mais respeito com as pessoas e deixar de ser atrevido.

Apressadamente, Karol levantou-se para sair quando ouviu o rapaz dizer:

- Calma! Um beijo sim. Um beijo de irmã.

- Irmã!?

- Sim. Somos filhos do mesmo pai.

Karol procurou o solo embaixo dos seus pés e não o encontrou. Desmaiou-se...

 
 
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