DESEJO
REALIZADO
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J
P Camargo
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Eles
estavam sentados num banco de madeira aparentemente muito antigo, à sombra
da árvore que dominava naquele quintal, conversando animadamente sobre os
assuntos mais banais do mundo. Júlia e o amigo estavam passeando até alguns
minutos antes, o que só deixaram de fazer por causa do calor insuportável
e da providencial passagem em frente à casa da avó da moça. Logicamente,
Marcos tinha aceitado o convite para aquela parada momentânea, especialmente
por dois motivos: em primeiro lugar, porque a temperatura naquela tarde
de primavera estava realmente acima do normal, e em segundo porque o quintal
da residência da vovó de sua amiga era acolhedor o bastante para ele e suas
intenções que iam além da amizade.
Júlia era perspicaz e desconfiava havia um bom tempo que Marcos sentia algo mais por ela. Só não podia imaginar o quanto ele estava apaixonado, talvez até disposto a colocar em risco a amizade que tinha começado de forma tão inesperada, numa sala de bate-papo da Internet; não fosse esse encontro virtual e casual, jamais teriam sabido da existência um do outro e que, na verdade, moravam no mesmo bairro. Mas tudo isso pouco importava naquele momento, enquanto jogavam conversa fora, rindo juntos, protegidos do sol pela mesma sombra e refrescados pela mesma brisa que mexia nos cabelos da moça. No entanto, repentinamente, fez-se silêncio entre os dois. Ela percebeu que o rapaz estava algo nervoso, mas nunca imaginou o que viria depois. Sem mais nem menos, o silêncio foi rompido por um pedido. "Quero um beijo!", disse Marcos, rápido o suficiente para que a voz não saísse trêmula. Diante disso, Júlia não teve como evitar um sorriso malicioso, mas que disfarçou muito bem ao ter uma bela idéia. Surpreendendo o outro, levantou-se do banco e convidou-o a conhecer a avó, que apenas tinha visto de relance ao entrar na casa. Desorientado, ele acabou cedendo à idéia e acompanhou a garota até o interior do lar. Lá chegando, foi apresentado à dona da residência, uma velha senhora possivelmente banguela. Então, quando essa senhora o cumprimentou com um beijo lambuzado em seu rosto, simultaneamente notou o sorriso cômico de Júlia; ou seja, ele tinha ganho o beijo. Um consolo: não tinha sido na boca... |