DO BEIJO E SEUS MOTIVOS
Eduardo Loureiro Jr.
 
 
Não esperava por aquilo numa segunda-feira, às 3 e meia da tarde:

- Me dê um bom motivo para eu não beijar você! - ele disse.

Ela tanto não esperava por aquilo que ficou completamente parada, fazendo com que ele repetisse o que havia dito, e que ela, mais uma vez, não esperava:

- Você é capaz de me dar um bom motivo para eu não lhe beijar agora?

(Ela pensou em dizer que mal o conhecia, que só o vira passando de um lado para o outro, e que não costumava beijar estranhos.)

(Ela pensou em alegar que estavam no escritório, e que não ficaria bem nem para ele nem para ela um beijo no meio do expediente.)

(Ela pensou em lhe lembrar da aliança que ele carregava no anelar direito, e que indicava que ele estava noivo, comprometido, e que não poderia jogar tudo para o alto por um simples beijo.)

(Ela pensou em confessar que era homossexual, lésbica sem muita convicção, mas lésbica, e que a notícia do beijo em um homem, se chegasse no ouvido errado, poderia abalar a sua reputação.)

(Ela pensou em se autodepreciar, dizendo que não havia escovado os dentes depois do almoço e que a essa altura o Trident já estava vencido.)

Ele, aproveitando-se da indecisão dela, a segurou pela cintura e a beijou.

(...)

Todos os demais funcionários já deixaram o escritório. Eles ainda não encontraram nenhum motivo para pararem de se beijar.

 
 
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