UM
BEIJO ANTES DE MORRER
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Edson
Rodrigues dos Passos
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...só,
no quinto andar, na esquina da Paulista com a Brigadeiro, olhei uma dezena
de combatentes da resistência serem fuzilados.
Os furos das balas, jorravam sangue vermelho e denso. Caídos, tinham os olhos arrancados do rosto,e servidos entre os invasores, como exótica iguaria. O silêncio da morte gelava nos meus ouvidos,tirava-me a coragem, expropriava meu senso, e tornava-me vulnerável. Doutro lado, em pé na última janela, uma arrojada criatura vasculhava os arredores, varria com o olhar aceso, do alto do trigésimo andar, cada palmo de chão da avenida. Sua postura altiva e as curvas de seu corpo delgado inquietava os soldados e encorajava os prisioneiros, que viam naquela mulher de mais de dois metros, cabelos curtos, e braços musculosos, o último foco de resistência nativa. Ela me viu, ou farejou meu medo, meus sentimentos ficaram confusos, sentia a oportunidade de ser salvo, e ao mesmo tempo, me senti caçado. Os soldados também me viram, e não perderam tempo, arrombaram a porta do prédio a pontapés e iniciaram uma ruidosa subida pelas escadas. Gritavam como indíos selvagens em guerras tribais, em poucos segundos, seria dizimado e teria meus olhos arrancados. A não ser que......ela chegasse antes ! Com a cabeça pela janela supliquei sua ajuda, a cada segundo, o barulho firme das botas dos soldados era mais alto e próximo, meu coração acelerou de tal maneira, que parecia que fugiria pela minha boca. De repente ela mergulhou pela janela, como uma águia predadora, quebrou os vidros com um murro certeiro e como se fosse uma felina caiu em pé na minha frente. Nesta hora os soldados forçavam a porta a empurrões, falta pouco para vir ao chão. Como um farol, seus olhos verdes iluminaram o tom negrejado do início de noite, e perfuraram minha alma, ela retirou um punhal da cintura, abraçou-me com ternura, e beijou-me enquanto me esfaqueava nas costas, a lâmina desfalecia meu corpo, enquanto minha alma era aquecida pelo intenso prazer... |