ESTRELAS NO MEU CAMINHO
Paulo Panzoldo
 
 
"A solidez da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão.
Queremos a ilusão grande do mar,
multiplicada em suas malhas de perigo."
(Cecília Meireles)

Quando eu era moleque, era cheio das paixões. Cada vez que me apaixonava, era líquido e certo alguém que me procurasse, me achar dentro de um bote desses infláveis, bem no meio da represa, dormindo sob a luz das estrelas. Eram elas, as estrelas, as minhas confidentes. Sei que falava com o passado, pois dizem que elas já não estão mais lá, que tudo não passa de ilusão de ótica, mas que eu tenho uma saudade danada desse tempo, lá isso eu tenho. Aqui em Sampa não é como lá na fazenda, não se vê estrelas, portanto, parece, somos impedidos de ter ilusões.

Já quem mora à beira-mar, pode se dar ao luxo de olhá-lo. De dia ou de noite, não importa, lá está ele, às vezes azul, às vezes verdes como os olhos da Chris. Tão lindos os olhos da Chris, que Deus os fez em dobro, deu-lhes gêmeos no rosto da irmã.

Doce ilusão, amarga paixão, esses olhos que na verdade nunca me pertenceram. Ninguém é de ninguém, aliás, nada é de ninguém. Somos pura ilusão, um sonho de Deus, às vezes pesadelo solidificado, às vezes um sonho doce que, como uma pluma, viaja sob as verdes águas dos olhos da Chris.

 
 
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