Miríade, isso
lá é palavra de começar alguma coisa. Du-vi-do que aquela sirigaita saiba
o significado, falou só pra se mostrar intelectual, dona do mais vasto
vocabulário, até ontem não sabia nenhum estilo e agora quer ser a deusa
das águas. Meu título, ela pode até roubar, mas o nome da crônica é digna
de uma medalha de menção honrosa. Duvido que alguém pense em um nome melhor
para aquela ladrazinha de trófeus. Posso até ver em letras garrafais o
título - A LARÁPIA.
Alguém tem alguma sugestão de quem é a vítima de hoje? Foi quando gritei
bem alto "a gente precisa desmacarar essa garota" ela não devia
se chamar Lara, devia se chamar larápia, é uma ladra e me roubou tudo,
até meu lugar no pódium.
A vítima seria ela - a queridinha da torcida masculina, claro. A Larinha
que saída do banco dos reservas, tinha virado estrela do dia pra noite.
Vou contar como foi que vi a Lara pela primeira vez. Ela desfilou bem
enfrente a arquibancada masculina, com um short desfiado na ponta, era
tão curto, que dava pra ver as polpas da bunda dela saindo entre as franjas
do curto modelinho.
Os homens derrubavam seu olhar para as pernas dela e ela sabia exatamente
como mexer com eles e isso não incomodava nenhum um pouco aquela lambisgóia.
Ela se fingia de sexy, mas era uma boa de uma bisca, que atleta que nada.
Era amostrada toda, vivia enfeitada como uma arara colorida. Teve um dia
que ela combinou a cor do maiô, com as rodinhas que dividiam as raias
da piscina. Todo mundo achou lindo ver aquele maiô cinza e vermelho deslizando
pelas águas, até o técnico percebeu que ela tinha futuro naquele dia e
não desgrudou mais os olhos dela.
Nem te falo quando morri de nojo dela, acredita que ela sentou bem desleixada
no banco dos reservas e esticou a mão, com aquela unha comprida que mais
parecia de porcelana pintada de vermelho e apertou prazeirosamente um
chiclete vencido debaixo do banco. Eu posso falar porque tenho inveja
dela, aliás não existe mulher que não tenha inveja uma da outra. É sempre
assim, rola um ciúme, do cabelo, da bolsa, da roupa, da maquiagem, do
sapato, do perfume, até do namorado, sempre tem um motivo pra gente invejar
alguma coisa.
A Larinha parece que estava acima de qualquer coisa, todos gostavam dela
e isso me deixava tesa de ciúmes, da sua popularidade. Eu me chamo Henriqueta,
sabe nome português e peguei ódio da Larinha no dia que ela falou que
era fã de Frida Khalo e que eu parecia com ela. Sei que ela falou de pura
maldade, querendo dizer que esse infeliz desse bigode lusitano é que parece
a cara da artista bigoduda. Se eu não fosse nadadora, nesse dia tinha
dado um soco nela.
Minhas amigas me falaram que devia levar aquilo como elogio, mas me tornei
Henriqueta "a irriquieta" e queria tornar o nome da Lara de
"a larápia". Eu que sempre fui uma nadadora de elite não me
conformava, como uma nadadora da reserva podia estar melhorando tanto
seu tempo e aprimorado tanto seu estilo.
Aliás, até hoje não sei como aquela gatuna, veio parar na primeira divisão.
Até suponho que ela deve ter conseguido engabelar alguém, fazer alguma
falcatrua. Quando ela não estava na lista das competições, ela ia lá e
colocava o nome dela, era uma bandida.
Um dia teve uma caimbra e o técnico foi lá ajudar, imagina rolou até um
beijo na boca. Isso não é supeito? Eu vi que ele aproveitou o ensejo e
deu umas dicas "Larinha nada assim, vai peito é teu forte, esquece
nado borboleta, nado costas você também leva jeito". Pronto, foi
o suficiente pra desaparecerem todos os homens da terra. A Larinha só
tinha olhos para o técnico. As meninas começaram a perceber que a Larinha
não faltava em nenhum treino. Imagina deixar aquela espertinha mofando
no banco de reservas para o resto da vida, esse era meu mais profundo
desejo, mas nem conto a cara do técnico, ele não conseguia mais disfarçar.
O técnico parecia que andava afogado de amor, só enxergava a Larinha e
ela foi se mostrando e nadando, nandando, nandando. E ele foi se apaixonando
de um jeito, que logo ela foi parar na primeira divisão.
Então, estou contando tudo isso, só pra dizer que aquela lagartixa deslizante,
roubou minha medalha. Nesse momento estou ouvindo no megafone o nome daquela
monstra marinha. - Lara Silveira. Ela acaba de receber a minha medalha,
está no pódim que um dia foi meu.
E eu? Estou sentada no banco de reservas e só de ódio nem fiz a depilação
do meu buço, se ela me chamar de Frida, mato ela afogada na piscina. Eles
passaram por aqui, a Larinha e o técnico, dava quase pra ver, coraçãozinho
voando. Ele estava muito orgulhoso de tudo que ela aprendeu. Ele vai continuar
ensinando novos estilos para ela nadar. Por mais que tenha ódio, tenho
que confessar, ela tem talento e demorou muito tempo no banco de reservas
até que um técnico lhe deu oportunidade. E ainda de quebra roubou o coração
dele e o homem anda até sem fôlego, de tanto que se amam.
Tá vou ter que concordar, ela merece essa medalha e eu vou tratar de tirar
esse bigode horroroso e botar meu peito pra fora. Se tem uma coisa que
mata a Larinha de inveja, é ter peitos grandes. Mas juro, que nunca vi
ninguém ter mais peito que ela pra infrentar a vida como uma piscina,
ela mergulha e vai fundo. E ainda posa na foto e fala bonito, fala em
míriade. Tenho certeza que ela sabe o significado e se não souber ela
inventa um, porque ela é uma larápia.
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