Faz muito
tempo que eu venho observando, e agora vou contar tudinho pra você: as
palavras têm família, e as famílias das palavras são muitíssimo parecidas
com as famílias das pessoas. Quer saber como eu cheguei a esta conclusão?
Elementar, meu caro leitor: andei levantando as características de uma
família de destaque no mundo das palavras. Família essa, aliás, que pode
até não fazer muitos amigos, mas sempre se ocupa de influenciar as pessoas.
É a família do velho e bom conselho.
Muitos dizem que se conselho fosse bom ninguém dava: vendia. Pura implicância.
Assim como todo mundo, o conselho tem lá os seus defeitos, mas também
tem grandes qualidades. Pra falar a verdade, de todos os contatos que
eu já tive com o conselho, ficaram muito mais lembranças de um cara esperto
e equilibrado do que as de um sujeito mau. E tenho a impressão de que
acontece o mesmo com você.
Filho da dona experiência, o conselho também gerou o seu casal: a opinião
e o parecer. A opinião é bem mais velha e sempre teve aquele jeitão espontâneo,
meio intuitivo e bastante amalucado. Ouvi dizer que ela já arrumou muita
encrenca por ser assim. E que, por causa disso, o velho e bom conselho
criou o parecer de um jeito completamente diferente. Foi por isso que
o parecer ficou um cara sério, compenetrado, que só se pronuncia sobre
um tema com bases em conhecimento sólido. Aliás, o objetivo do parecer
nunca foi convencer ninguém, mas sim provar por a mais b que está certo.
Não é à toa que ele vive às turras com os seus quatro sobrinhos. Sim,
porque os filhos da opinião são tipinhos impossíveis, que estão sempre
se intrometendo na vida de todo mundo sem nenhum critério respeitável.
Pois estes sujeitinhos compulsivos não poderiam ser outros senão os palpites.
Tem o palpite chato, que fala tudo o que pensa e geralmente só pensa bobagem;
tem o palpite errado, que - assim como o inferno - vive cheio de boas
intenções; tem o palpite viciado, que o povo apelidou de "opinião
de jogador"; e tem o irmão menor, que é conhecido por palpitinho
besta. Esse é fácil de identificar, porque onde quer que ele apareça sempre
tem alguém que o denuncia: êta palpitinho besta!
E sabe o que é pior? Apesar de tudo, tá assim de gente que ainda perde
tempo com eles só pra fazer bonito para a opinião. Mas só atinge a opinião
alheia, porque a opinião própria nunca dá bola pra qualquer palpite que
não seja seu.
Já as filhas do parecer, bem diferentes entre si, reúnem algumas características
do pai e da tia, mas nem de longe se assemelham a um ou à outra.
Uma delas é a proposta. Geralmente muito simpática, a proposta só tem
um defeito. É aquela maniazinha safada de se fazer de irresistível ou
de indecorosa só pra forçar alguma decisão em seu favor.
A outra neta do conselho - irmã da proposta e prima dos palpites - é um
tipo elegante, arrumadinho e perfumado, que só fala o que está pensando
quando alguém se mostra interessado em ouvir. E quando quer expressar
uma idéia mas ninguém se dá conta, ela pede licença e, usando sempre a
terceira pessoa, e de vez em quando um plural majestático, arrisca: "você
gostaria de ouvir a nossa sugestão?".
Você, que está aí me lendo, pode muito bem confirmar. Afinal, quantas
vezes por semana você pede ou aceita ouvir uma sugestão, heim?
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