APENAS
UM TOQUE
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Renato
Bittencourt Gomes
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O
poeta ensina que é preciso ter alma larga para bem aproveitar tudo que é
oferecido pela vida. Não resta dúvida de que o preceito é bom, pois o material
fornecido não é necessariamente limpo e, ainda assim, é dele e só dele que
dispomos para plantar nossos canteiros de sonhos e margaridas. As coisas
apresentadas são mesmo medonhas: afetos egoístas, rancores, vaidades. Enfrentamos
esta malta cotidianamente. Diante dela, o que posso pensar talvez seja um
excesso de aristocratismo, mas não posso calar que às vezes percebo estar
me envovendo com almas mal nascidas. Não é bom arriscar uma afirmação tão
categórica em assunto tão controverso - estamos falando de juízos acerca
de nossos semelhantes, e tais juízos são sempre perigosos, podem conduzir
ao erro e à impiedade. Entretanto, existe uma certeza: mesmo que não seja
um mal de origem, legado já no leite materno, há muita gente mal formada,
sem a adequada orientação no devido tempo. Assim se constitui uma canalha
que enfeia a face da Terra - pessoas que comungam de ideais tortuosos, modelos
pervertidos, credos nefastos.
Tais viventes chegam só até o meio do caminho, são personalidades novas-ricas, pragmáticas e arrivistas. Tudo o que entendem por nobreza de espírito é tão-só o protocolo da realeza, os títulos sonoros e os rapapés. Então, eu é meu dever lhes dizer que "te aparta de mim, raça maldita". Não pode ser diferente, porque a conversa é séria, ninguém veio aqui a passeio. O jogo está acontecendo e tudo é fatal. Dizendo de outra forma, já como testemunho, como artigo de fé confesso que vejo abominação no fato de o contato entre os corpos e as almas estar resumido a um escambo, uma troca de interesses, uma busca do lucro. Contudo, resistir é preciso, e há mais mundos, há essa eterna dialética entre energia condensada e matéria sutil. Se sabemos operar essa embolada massa que somos nós, vamos da lei da morte nos libertando. Claro que carece de muito engenho e arte, é necessário ter a destreza de recusar a astúcia do inimigo e, sobretudo, não dar de comer os urubus, negar-se às seduções dos metais pesados. É fundamental freqüentar vibrações em maior harmonia com a música das esferas. Se esse é o norte da nossa conduta, aí sim: de posse de uma sugestão, vamos em frente. |