UM BOM NOME
Míriam Salles
 
 
Sugiro... bom nome!

Era uma piada corriqueira, dessas que se contam em família e que apenas a familia entende. Levei anos pra entender, uma vez que morria de vergonha de perguntar.

Bons tempos aqueles onde era timida e quieta. Ouvia mais que falava e aprendia mais que perdia. É, porque falando, perdemos um monte de acontecimentos, entretidos que ficamos com o som de nossa própria voz. Naqueles tempos eu observava e via.

Via o carinho de meu sogro e a delicadeza daquela relação. Um ceder e se doar sem cobranças, com um máximo de atenção.

Via uma família unida na alegria. É fácil se unir na tristeza, mas quantos se unem na brincadeira? Almoçar com eles era a certeza de uma refeição que enchia mais o espírito que a barriga. Claro que a comida também era deliciosa. Lembro da beringela, que devorávamos como aperitivo, acompanhada da caipirinha, minto, do remédio para tosse (e aí meu sogro sempre fingia um engasgo) de limão caipira e rum montego bahamas bay. Bom, esse é o som da minha lembrança, duvido que seja o que ele falava.

Lembro também que cada ocasião se transformava em festa. Se estávamos para almoçar, arrumando a mesa, eram almofadas que giravam nos dedos de um para o dedo de outro, feito malabaristas de circo, pra logo em seguida serem substituidas por pratos de porcelana finíssima. Nunca vi nenhum se quebrar. Se estávamos na praia, eram quatro marmanjos de pernas pro ar.

Outra coisa (essa eu não via, sentia) era o jeito de falar. Foi naquela ocasião que aprendi a gostar da conjunção "meu bem". Me chamava de benzuca e volta e meia me pedia pra coçar as costas dele. Quando as minhas coçavam também, dizia que isso eu tinha herdado dele. Adorava ouvir esse carinho. Faz quase oito anos que ele se foi. Dizem meus filhos que anda jogando futebol lá no céu.

Costumo esquecer desse detalhe (que ele se foi), principalmente quando acontece alguma coisa muito boa, como quando conseguimos comprar a nossa casa. Eu sei que ele nunca esteve aqui, mas é comum lembrar dele olhando nosso jardim.

Ah, esqueci da piada.

Um casal de japonêses escolhia o nome para o filho que estava a caminho e pediram ajuda a um amigo. O amigo solícito foi dizendo os nomes de que gostava:

- João?

- Não.

- Manoel?

- Também não.

- Roberto?

- Não gostamos.

- Então sugiro...

- Isso! Sugiru, bom nome.

 
 
fale com a autora