Tudo bem, voltemos à minha revolta. Na hora em que cheguei ao caixa, aquela menina com cara de idiota (que me perdoem os estilistas que desenharam as roupinhas simpáticas dos atendentes, mas já notou como todas as pessoas parecem idiotas com aquilo?) me perguntou, quase afirmando:

- Um número 3 com torta de maçã de sobremesa!?

Não gostei. Por que eu deveria querer um número 3?

- Não, não quero um número 3. Quero qualquer coisa, menos um número 3. Por que você achou que eu gostaria de um número 3?

- Senhor, é só uma sugestão...

- Mas a fila está enorme, todo o mundo quer comer logo, por isso está num fast-food, e você quer atrasar ainda mais fazendo sugestões esdrúxulas?

Ela não entendeu. O que seria esdrúxula?

Aí foi pior. Outra menina, um pouco mais velha, desta vez de camisa branca, a gerente, passou gritando:

- Vamo, vamo, vamo, vamo!

Aquilo devia ser para que os operadores de máquinas, dinheiro e lanches fizessem tudo o mais rápido possível.

- Por que ela está aqui achando que eu quero um número 3 com torta de maçã? - dirigi-me à da camisa branca.

- Senhor, somos uma franquia, seguimos o que a matriz manda.

- E mandaram eu comer um número 3 com torta de maçã?

- Não, senhor, fazemos um rodízio das promoções e oferecemos aos clientes.

A fila vaiava, queria que eu saísse logo, o ar continuava engordurado. Comecei a suar. Ou melhor, notei que estava suando fazia tempo. Minha amiga já estava quase se enfiando embaixo da bandeja, porque ela já tinha decidido pelo número 5. Só eu estava ali complicando a vida de todo o mundo. Algumas coisas são assim mesmo, querem decidir por nós. Pensei nos deputados em Brasília, votando das maneiras mais antipopulares possíveis e dizendo que era a base que queria aquilo. É, nada mal a menina do McDonald's querer decidir por mim.

- Vai um número 6 com coca light sem gelo, por favor - decidi, contrariando minha vontade de comer o número 3 que me tomara durante toda a estada na fila.

E ela concluiu:

- Torta de maçã de sobremesa?