CAIXINHA
DE SUGESTÕES
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Eloi
Xavier
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Desde
pequeno, nosso passeio de veraneio era no litoral paulista. Ficávamos uma
semana hospedado numa colônia de férias, e íamos a praia logo ao amanhecer
e algumas vezes no final da tarde.
Naqueles passeios éramos reis, tínhamos o mundo inteiro nas mãos, mesmo que esse mundo fosse limitado ao playgraund. Todo dia era domingo. E sorríamos como crianças em comerciais de hambúrgueres. Mesmo com tanta alegria estampada no rosto, minha visão criteriosa germinava, e buscava no meio daquele paraíso, algo para ser mudado. Quando nos tornamos adultos, perdemos um pouco da coragem que tínhamos quando mais jovem. Uma coragem desesperadora. Às vezes desafiadora. Muita vezes tola, porém sincera. No saguão da colônia, havia uma caixinha de sugestões, onde os hóspedes depositavam os bilhetes com elogios, criticas e sugestões. E foi nessa caixinha, que vi a possibilidade de transpor todos os meus desejos, por mais absurdos que fossem, crente que seria prontamente atendido. Estava enganado. Por anos depositei sugestões naquela caixinha, e não vi nenhuma ser aprovada. Não me recordo de todas as minhas sugestões, mas se algumas delas fossem atendidas, a colônia teria que ser muito mais que um hotel cinco estrelas. E o playcenter perto do playgraud da colônia, seria apenas mais um parque. Ou seja, na imaginação de uma criança, seria possível transformar areia em neve. Cansado de ver os meus sonhos naufragarem e a onda do mar levar o meu castelo de areia, que demorei tanto para construir, resolvi dar um basta naquilo. Prometi que nunca mais iria sugerir nada. Mas para isso deveria dar uma última sugestão. O golpe mortal. A sugestão derradeira. Aquela que iria tocar profundamente nas suas feridas. Sugeri que se livrassem daquela caixinha de sugestões. Pois além de ocupar um espaço que poderia servir para algo mais útil, como um bebedouro, eles não atendiam nenhuma sugestão. Alguns anos mais tarde, já não dava tanta importância para a caixinha de sugestões. Já era adolescente e meus interesses eram outros. Tanto, que nem havia reparado que ela simplesmente já não existia. Parado no canto do saguão, imóvel em gestos e pensamentos por alguns segundos, lembrei da caixinha de sugestões. Já não sabia se eu gostava tanto dela, pelo fato de gostar de escrever, ou pelo fato de querer ver algo mudado, por sugestão minha. De qualquer forma, lá estava eu, com o sorriso novamente estampado no rosto. Finalmente, depois de anos, acataram uma sugestão minha. No lugar da caixinha de sugestões, um bebedouro. |