DE
PEDRAS E FRAMBOESAS
UMA PEQUENA HISTÓRIA INFANTIL |
May
Parreira e Ferreira
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Esta
é uma história comum. Uma história onde gente é gente e bicho é bicho. Uma
entre tantas histórias de Miamenina.
Vamos imaginar uma moldura nesta página, e dentro dela desenharmos uma pequena floresta, densa, colorida com seus jacarandás roxos, ipês amarelos, siunãs encarnados. Mata ciliar de um lago de águas claras vindas da nascente do outro lado da montanha. É nesta paisagem que Miamenina passa a maior parte de seu tempo. Ela é garota esperta, curiosa e atenta. Bem pequena aprendeu a fazer tranças, muito impaciente nunca esperou um par de mãos vazias para prender seus cabelos. Todo dia bem cedinho, antes de ir para escola, vai nadar no lago. Que lindo prestar a atenção nos reflexos dos raios de sol entrando nágua, fazendo imagens iguais àquelas atrás da cabeça dos santinhos. Miamenina aprendeu a mergulhar. Quanta diversão ir até o fundo para pegar pedrinhas. Redondas, achatadas, quadradinhas. Num desses mergulhos, achou uma pedra diferente, que brilhava, Nossa, parece um diamante! Vai ser o meu tesouro, disse animada. Fez um saquinho de couro para guardar sua pedra preciosa e o pendurou no pescoço. Feliz e com uma alegria contagiante, aos pulinhos passeava para lá e para cá. Um dia, de algum lugar vizinho, apareceu por lá um filhote de avestruz. Todo redondinho, plumagem fofa e olhinhos azuis. Miamenina o chamou de Ricalalá. E entre os dois nasceu uma grande amizade, outras crianças tinham gatinhos, cãezinhos, e Miamenina um Ricalalá. Corriam juntos pelos campos, brincavam de pega, de esconde, bebiam água na nascente, comiam amoras e framboesas madurinhas. Enquanto Miamenina nadava e mergulhava, Ricalalá ficava andando entre as pedras das margens do lago, seguindo a menina de um lado para o outro, não a perdendo de vista um instante sequer. Certo dia, a menina disse, Sabe, você é tão legal, gosto tanto de você que vou lhe mostrar meu tesouro secreto. Retirou de dentro do saquinho e estendeu a mão, mostrando ao amigo, sua pedra brilhante. Os olhos de Ricalalá se esbugalharam. Uau! Ele nunca havia visto algo assim. Imediatamente, de um salto, Ricalalá abocanhou a pedra. A menina deu um grito. Ricalalá saiu correndo e Miamenina correndo atrás dele, Pare! Pare! Isto não é comida. Devolva meu tesouro. Mas ele não parou nunca e sumiu pelo campo, assustado com o susto e com os gritos da menina. Miamenina cansada da inútil correria sentou-se, chorando, ao pé de uma magnólia, sua árvore da sorte. Ai! Quetristezadevida! Aquele que era seu melhor amigo, o mais querido, foi embora e levou sua preciosidade junto com ele. Comeu achando que fosse um besouro! Ficou ali sentada. Chorou, chorou até secar. Então começou prestar a atenção no perfume que havia no ar. Vocês sabem, a magnólia tem um perfume suave, inigualável. Ela foi respirando e se acalmando e respirando. Levantou os braços esticou-os bem esticados, desenrolou o corpinho e inspirando bem forte, foi dizendo em voz alta, para ela mesma escutar, Eu posso mergulhar de novo e encontrar outras pedras. Meus tesouros agora vão ser o que eu guardar no coração, pra ninguém tirar de mim a minha riqueza. Posso também achar novos amiguinhos para brincar. Ricalalá não teve culpa, ele não sabia o que estava fazendo, acho que nenhum filhote sabe, disse a menina num tom bastante adulto para sua idade. Miamenina encheu seus pulmões daquele ar perfumado e saiu disposta a mergulhar bem fundo. * FIM - que não é fim, mas o início de outras tantas descobertas - |