DURO
FEITO PEDRA?
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Beto
Muniz
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Quem
pensa que impotência é coisa da idade, engana-se flacidamente!
Independente da idade, esse acidente acontece com qualquer um, a qualquer
tempo, e nem precisa uma guria falar inglês na, digamos, hora H...
Ou você é mais um daqueles que pensam que em se tratando
de sexo, a pior coisa que pode acontecer com um homem é ele não
funcionar na, digamos novamente, hora H? Se alguém ainda pensa
assim, o que não acredito (mas devo considerar), é porque
lhe falta imaginação! Imaginação sim! O sujeito
criativo descobre cedo que na hora da broxada é que começa
a verdadeira diversão. Durante as férias do dito cujo, é
possível usar vários outros substitutos... Azar do pênis
que não quis participar da brincadeira. Ora!
Todo sujeito que se preze - e preza sua saúde sexual - deve dar a devida atenção aos direitos adquiridos de seu pênis. Inclusive o direito de não funcionar quando não quiser! - Entre! - Não quero... - Pô! - Não quero entrar! Me esquece. - Sua obrigação é entrar quando eu mandar. - Processe-me ou demita-me! - Qualé? Tá Abusado, hein? - Vai encarar? Uma brincadeira, um diálogo surreal, mas já parou para pensar nos traumas psicológicos que um sujeito, com vida sexual ativa, pode causar na, digamos, cabeça inferior? O safado vai metendo o órgão em todos os buracos que se apresentam sem nem perguntar se ele está disposto a entrar ali, naquele lugar. - Para, para, para, para! - O que foi? - Estou com medo de entrar ali, sozinho. - Deixa de frescura, já entrou em lugares parecidos tantas vezes. - Esse aí tá escorrendo umidade! - É assim mesmo, uns umedecem mais, outros menos. Não tenha medo. - A é? Entra você! - Ok. Ok. Vou verificar o terreno pra você. - Tá, eu espero. Depois de dois minutos o sujeito volta a falar com o sujeitinho: - Viu? Não tem nada de mais lá. Inclusive, o pai de todos foi muito bem recebido... Vai você agora. - Mas ainda estou com medo. - Tudo bem então. Relaxe por uns trinta minutos e a gente tenta novamente se você estiver melhor. - Obrigado pela compreensão. - Ora, deixe estar. E assim por diante... Ou melhor, assim deveria ser o procedimento. Mas ninguém pensa no pobre. Nem sabe que pode dialogar com o pênis, aliás, acha que é veadagem dar ouvidos à sua extremidade erótica - que numa crise de impotência nada tem de erótico. A maioria também nem imagina que o pobre tem o direito de querer um dia de folga. Quem acha mesmo que o pênis não tem querer, só precisa aguardar... Na próxima transa vai descobrir se ele tem ou não vontade própria. Assim como a primeira mulher, a primeira broxada é a mais importante no currículo do cidadão enquanto sujeito macho. Posso apostar que a parceira dessa primeira falsidade "ideológica" também é lembrada pela vida toda. Sem contar que as reações e decisões tomadas logo após essa primeira vez são cruciais para a formação do homem enquanto indivíduo esporadicamente impotente, sexualmente falando. Recordo bem da minha primeira vez, num baile familiar no interior de Minas Gerais. Fui para a garagem da casa com uma mocinha feia, porém risonha. Não sei se pelo desconforto do meu traseiro despido apoiado no capô gelado da perua rural, ou se pela falta de vontade mesmo, já que fui mais por obrigação de macho eternamente no cio do que por tesão, a verdade é que não teve jeito, não funcionou... O membro que deveria ficar duro feito uma pedra parecia rochedo de cenário hollywoodiano, feito com isopor e látex. Após conhecer o inferno dos "combalidos", fiquei receoso de uma segunda falha e alguns fantasmas tomaram posse de minha mente. A semana inteira penando. Sorte minha que não esmoreci nos camotes, não encuquei em demasiado e fui à luta! No final de semana, no interior de uma casa em construção, de maneira e forma rija afastei todos os medos que rodeavam minhas cabeças adolescente. Não contei a ninguém essa provisória incapacidade para a cópula e a moça da garagem, que não era da cidade, teve recato suficiente para não espalhar meu segredo de consistência flácida. Graças a essa discrição mútua a minha vida de garanhão local permaneceu imaculada, porém, a menina feia de riso fácil nunca mais saiu de minha mente. Lembro, como se fosse hoje, de cada dente torto dentro daquela boca feia, que se escancarava complacente diante do meu assombro langoroso (sempre quis escrever uma frase igual a essa). Passaram-se uns três anos até que o fantasma da impotência me atacasse novamente. Dessa vez eu já estava em São Paulo. Era fim de ano, me juntei a uma gangue de amigos, homens e mulheres, e fomos para o Guarujá. Pouco antes da meia noite fui para o quarto com uma garota e não deu samba novamente. O meu instrumento de diversão estava mais arriado que suspensão de carro de gordo. Achei que ia começar o ano com essa falha entalada na cabeça (as duas) e voltei para a festa conformado. Mas outra garota, quase que por acidente, atacou esse pobre ser masculino que vos escreve e não tive outra opção senão atendê-la... E para minha surpresa, funcionou! Perfeitamente! Menos de uma hora depois convenci a garota anterior a voltar para o quarto comigo, onde recuperei a fama de mau. Ainda dei a desculpa que antes eu estava ansioso demais e por isso tinha falhado. Ela acreditou e inaugurei o novo ano com duas cópulas, com duas mulheres diferentes, em menos de duas horas (abre parênteses: esse orgulho relativo à abundancia numérica é coisa de macho realizado. Mulher não entende disso - fecha parênteses). Se eu começar a narrar todas as vezes em que fui assolado pela greve do órgão denominador da masculinidade, essa história vira um romance, por isso vou contar só mais uma, a última. Conheci uma garota linda, foi paixão a primeira vista e vistas posteriores. Após um tempo de paquera nós resolvemos sair para nos divertir e, como sempre acontece entre um homem e uma mulher, a diversão acabou na cama. Para desespero dela e diversão minha, broxei. Digo que é para diversão minha porque depois da quinta broxada a coisa perde o assombro, ganha ares de graça e descamba para o auto-entretenimento. Ela ficou preocupada comigo, com os traumas psicológicos que poderiam advir dessa falha, contei que eu respeitava o direito de greve da minha extremidade erótica, que, como já disse, naquela hora não tinha nada de erótico, e inclusive pretendia fundar um sindicato que brigasse pelos direitos do pênis. Eu não deveria ter brincado com isso... Com o assunto! Ela ficou furiosa comigo, alegou que se eu sabia dessa minha "disfunção erétil" (palavras dela) e tinha brincado com as vontades e necessidades de uma mulher no cio, eu era um covarde. Na hora eu pensei: "E eu tenho culpa se ela não arruma homem e na ânsia de acasalar acabou por assustar meu operário do prazer?", mas depois de alguns minutos dei razão a moça. Eu não tinha o direito de deixá-la na vontade. Em se tratando de sexo, a pior coisa que pode acontecer com uma mulher é o seu homem não funcionar na hora H. Em seguida voltei a decidir que não, que eu estava errado novamente! Aquilo tudo escrito no início desse texto deve valer paras as mulheres também... Para a mulher criativa é na broxada do parceiro que começa a verdadeira diversão. Durante o horário de folga do dito cujo, o parceiro dela pode usar vários outros atributos e substitutos. Pode fazê-la muito mais feliz do que se utilizasse apenas o pênis... Azar do órgão copulador do macho que não quis participar da brincadeira. Ora! Afinal, toda mulher que preza a liberdade e os direitos das minorias, deve dar a devida atenção á vontades e invontades do coitadinho murcho ali, a sua frente. Inclusive o direito de ele não funcionar quando não quiser! - Entra queridinho! - Não... Num entro agora não! - Sua obrigação é entrar quando ela estiver assim, aguada de vontades. - Processe-me! - Meia bomba... - Qualé a sua? Vai encarar? - Até que eu queria, mas você parece mais uma esponja velha... - Também não precisa ofender! - Vai tomar um chá de muriré e depois a gente conversa. - Chá de muriré funciona? - Não sei, nunca precisei! Pois é, a maioria das mulheres não pensa nos sentimentos do órgão copulador masculino. Nem sabe que pode dialogar com o danadinho. Aliás, acha que é veadagem o homem dar ouvidos a sua extremidade erótica e que o pobre do falo não tem o direito de querer tirar folga só porque sua vagina resolveu inundar. É mole? É, todo mundo acha que broxar é dureza, mas na verdade é uma moleza. Eu que o diga... |