TUM! SOC! POW!
Viviane Alberto
 
 
Eu sempre fui louca por super-heróis. Todos eles, da família Marvel ao Zorro. E pelo Mel Gibson também, mesmo que isso suscite dúvidas se minha loucura se dava pelo seu heroísmo hollywoodiano ou aquelas piscinas de águas plácidas que são seus olhos. Ai, ai, sweet Mel Gibson…

Bem, voltando aos heróis ou a falta deles. Sabe o que eu acho que está faltando no mundo? Super poderes. Ou ilusão. Tudo era mais simples quando a gente acreditava que, em meio à comoção, existia a possibilidade de aparecer do céu - ou da cabine telefônica mais próxima - um super-alguém pra salvar o mundo. Se bem que isso tornaria o Brasil um alvo potencial. Quase não temos cabines telefônicas. Nossos heróis teriam que mudar de identidade no boteco mais próximo.

Dizem que o momento que estamos vivendo agora é o início de mais uma batalha do Bem contra o Mal. E eu ainda não consegui descobrir quem é um e quem é outro. Vê se você não concorda comigo: no cinema é bem mais fácil. O mocinho sempre é lindo (Mel, Willis, Russel, Clooney e te poupo do etc., porque auto-estima é uma coisa que se fere muito fácil) ou truculento (Arnold & Silvester). Já o bandido pode até ter seu charme, mas sempre tá na cara que ele é o bandido, a encarnação do mal. Geralmente o vestem de preto e está resolvido.

Mas, veja só, eu fiquei do lado do Al Pacino no Advogado do Diabo. Como resistir a um diabo daqueles? Até tinha o Reeves, mas sem comparação. E não é exatamente isso que acontece na vida real?

A realidade é muito crua, anoréxica. A ordem, quando se estabelece, deixa um quê de tédio no ar. As pequenas subversões começam a parecer atraentes, a transgressão se torna sedutora. Quando você percebe, já cometeu o delito. Seja ele atravessar o sinal vermelho ou comer pavê de chocolate. Aliás, pavê, bom-bom, biscoito recheado de limão e queijo parmesão também são vilões na vida da mulher moderna. E eu dou cobertura pra todos eles, dou subsídios pra sua existência. Alguém me prenda, por favor.

E tudo por quê? Porque não tem herói. Quando acontece alguma coisa, um desastre, uma tragédia, a gente acha mais fácil deixar como está pra ver como é que fica. Porque ninguém mais acredita nos poderes de gleiscou. O He-Man não tem mais a força. E se ele não tem, nem eu. E você?

Foi-se o tempo em que uma espada mágica conseguia conter a violência no mundo. Nem o Olho de Thundera dá mais jeito nisso aqui. Tudo isso funcionava quando o homem lutava contra o desconhecido, o mal invisível ou bizarro. Contra outro homem? Isso, não.

Hoje, a intolerância, o preconceito, a prepotência, a arrogância e todo tipo de ismos - partidarismo, extremismo, radicalismo, canibalismo (não consentido) - são muito maiores do que os poderes malignos de Mun-Ra.

O desamor se plantou fundo nos homens e atualmente eles não se contentam mais em dar num nó nas orelhas do coelho azul; eles preferem rasgá-lo, arrancar até o ultimo floquinho de algodão.

Não dá mais pra esperar que a ajuda venha do céu. De lá agora só vêm bombas. E chuva ácida. E estilhaços. E o cheiro estranho de um gás industrial.

Acabou-se o que era doce, meu bem. Não tem mais ilusão. Alice fechou as fronteiras do País das Maravilhas e nos deixou do lado de fora. Pobres adultos órfãos de super-heróis.

Não temos mais nada a fazer além de acenar pateticamente com nossas capas vermelhas, roubadas do super que foi e não voltou mais.

E agora, quem poderá nos defender?

 
 
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