FRACTAL
II
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Sérgio
Galli
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Bomba
atômica sobre Hiroshima e Nagasaki. Bombas sobre Dresden. John Wayne. Augusto
Pinochet. Fulgêncio Batista. Ferdidando Marcos. Xá Reza Palévi. Mobuto Seko
Seko. Hainé Salassiê. Castelo Branco. Costa e Silva. Médici. Videla. Strossener.
Noriega. Trujillo. Jonas Savimbi. Kabila. Papa Doc. Vietnã. Guatemala. República
Dominicana. Kadafi. Sadam Hussein. Taleban. Rambo. Ronald Macdonald's. A
lista é quase interminável. Fim da ideologia? Fim da história? Era pós-industrial.
World Trade Center. Pax americana.
Navegar (principalmente na internet) não é preciso. Viver não é preciso. Qual o sentido da vida? A vida precisa ter sentido? A existência é necessária? Viver para quê? Por que viver? Viver e morrer são um mesmo processo. Ciclo. A vida contém a morte. A morte contém a vida. Enquanto estas palavras são escritas, bilhões de células nascem, outras bilhões, morrem. Vida é filigrana. Morte, uma fração. Há de se lamentar os mortos nos terríveis incidentes acontecidos em Nova Iorque e Washington. A violência é intolerável. Nada justifica essa carnificina. Mas isso era esperado. Fatos semelhantes também existiram durante o fim do império romano. Para toda a ação há uma reação. Chavões à vezes explicam. A arrogância americana causa ira. Infelizmente a violência é componente intrínseco à condição humana. Na verdade, o homem nunca saiu das cavernas. Em vez de tacape, agora, usa mísseis, bomba atômica. Hoje, a caverna traz algum conforto (claro, para uma minoria). Várias quinquilharias eletrônicas tornam a vida menos desagradável: geladeira, fogão elétrica, lâmpadas, televisão, batedeira, computador, ferro elétrico... Todo esse aparato tecnológico não aboliu as ancestrais angústias do homo sapiens. Afinal, a presença do homo demens ainda se manifesta de forma explosiva, o exemplo mais atual comprova essa assertiva. O homem primata ainda habita entre nós. Além do mais, uma espécie que se deixou dominar por uma máquina (o automóvel) não merece respeito. As borboletas, as formigas, as bactérias, os protozoários, as folhas verdes, merecem mais consideração. O pensamento único que começou a vigor após a queda da União Soviética pretendeu extinguir os conflitos, as contradições. Mais do que isso, a tal globalização prometeu o paraíso na terra. Fez uma promessa irrealizável. Com o controle da informação, e da chamada indústria cultural, hoje rebatizada de indústria do entretenimento, a mídia e principalmente a publicidade apresenta um mundo consumista que é inatingível para bilhões e bilhões de pessoas. Gera uma expectativa que não pode ser atendida. A maioria da humanidade nunca vai provar o gosto de iogurte, de refrigerante. Nunca vai ter o cheiro de perfume de sabonete. Jamais vai saborear chocolate, biscoito, sucrilho. Quiçá, leite. Muito menos poderão adquirir, através de suaves prestações, automóvel, televisão, geladeira etc. È uma mentira cruel que gera ódio, ressentimento. Além do mais, se a população do hemisfério sul tivesse o mesmo padrão de consumo da população do hemisfério norte, a os recursos naturais já teriam se exaurido, isto é, o planeta já teria ido para o espaço (sem trocadilhos). Isso não explica tudo e nem dá razão a criminosos. Mas quantos crimes já foram feitos em nome da razão? O último acabou de acontecer, pois esses atentados foram feitos de forma muito bem calculada e racional. Há mais contradições. Quem inventou grande parte dos ditadores e terroristas pelo mundo afora foram os próprios Estados Unidos da América (voltar para o primeiro parágrafo). O feitiço virou contra o feiticeiro (mais chavões). Na sua fúria ensandecida contra a então União Soviética, os EUA apoiaram e sustentaram com dinheiro e armas tiranos e assassinos. Ocuparam vários países soberanos. E cometeram, na minha modesta opinião, o maior crime do século passado: a bomba atômica sobre Hiroxima e Nagasaki. Milhares de pessoas morreram, outras ficaram mutiladas, outras ainda carregam os efeitos da radiação até hoje. Para quê? Para exercitar os músculos e tal qual os caubóis dos filmes de faroeste mostrar para Stalin quem era o todo poderoso. A história e a memória não são importantes para a mídia. Só há o presente. É a sociedade do espetáculo. A comédia e a tragédia. Repito, tudo isso não justifica o atentado do dia 11, ao contrário, tira a razão de quem é contra essa hegemonia americana. Centena de milhares de pessoas, principalmente crianças, morrem de fome, de diarréia, diariamente, mas não aparecem no noticiário (só de vez em quando para alguma entidade filantrópica tomar dinheiro). Não dá audiência. Essas pessoas não existem. Tem a alcunha de excluídos. Só aparecem nas estatísticas, isto é, são números. Vivos ou mortos. Insisto, e sei que estou ficando repetitivo e chato, a humanidade acabou! ***** Obs: sugestão de leitura: "Êxodos", livro do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, Ein Deutsches Requien, de Johannes Brahms. |