QUEM MANDA NO CONTROLE?
Maurício Cintrão
 
 
Olha, diferente da maioria das pessoas que conheço, não sou surfista de televisão. Gosto, é claro, de zapear aqui e ali. Mas dificilmente assumo o comando da programação. Em geral, tenho que aturar os programas escolhidos pelos outros.

Quando meu sogro consegue assumir o controle, é futebol, na certa. Com a infinidade de canais existentes na TV paga, sempre tem um maldito joguinho de bola para que ele passe o tempo. Assiste e torce, o que é pior. E as mesas-redondas de debates sobre a rodada? Terríveis, terríveis... Tirando Cartão Verde e alguns programas da ESPN Brasil, o resto não faz falta nenhuma. Para mim, é claro, porque o velho Arthur assiste a todos.

Mas eu nem posso reclamar do coitado do pai da Rê. Apesar de alimentar essa paixão quase infantil pelo futebol, ele dificilmente tem voz na hora de escolher programas. Porque, na maioria das vezes, quem decide são as crianças. O João Paulo domina o controle por um bom tempo. Depois, ele vai jogar no computador e fica a disputa entre a Mônica e a Jéssica. É desenho animado, novela mexicana e séries enlatadas, pela ordem de horário.

Mas o João e a Mô dormem cedo. Como eu e a Rê chegamos tarde, fica a disputa entre a Jéssica, a menorzinha, e o "Seo" Arthur, como ela chama o avô. Aí, o pobre velhinho dança. Porque ele não conhece muito bem essas modernidades eletrônicas e ela já percebeu isso. Então, mantém meu sogro como refém dos mais variados desenhos animados.

Para você ter uma idéia dessa dominação, basta lembrar que, certo dia, o avô queria assistir a um jogão desses, tipo decisão de uma das dezenas de copas que inventaram por aí. Só estavam acordados ele e a Jeca. Angustiadíssimo porque já estava dando o horário, pediu para a neta colocar no único canal que transmitiria a partida. Como ela conhece a ignorância eletrônica do velho, mudou para um canal neutro, aqueles que só têm chuvisco. E falou na maior cara de pau:

- Ih, Seo Arthur, não tá funcionando.

Eles ficaram nessas idas e vindas até que chegamos do trabalho e descobrimos a tramóia. Deu tempo para o avô assistir o segundo tempo e para a Jéssica levar umas boas palmadas. Depois da sova, disfarçando a vontade de rir, perguntei a ela:

- Como que você faz isso com seu avô, filha?

- Ah, pai, ele não percebe e eu odeio futebol!

Quando todos dormem, ficamos eu, a Rê e a televisão. Ela assume o controle porque, em geral, não gosto de nada. Escolhe quase sempre um filme que só eu assisto porque ela dorme no meio. E o controle, bom, esse fica em algum lugar entre ela e as almofadas do sofá. Como sou preguiçoso, fico pensando na vida enquanto um neurótico mata moças na tela, ou uma menina bonitinha se apaixona pelo cara errado ou sei lá quantas variações sob o mesmo tema.

 
 
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