FIM DE SEMANA
Fernando Zocca
 
 
Botei vintão no bolso e sai pra caminhar. Eram já dez horas daquele primeiro domingo do mês. A ausência de pressão imposta pelo cumprimento de horários bem como o escasso movimento de seres moveis dirigentes de bólidos furibundos propiciava paz e serenidade ao deslocamento.

Estava tranqüilo naquele inicio do dia eis que a noite tinha sido dadivosa. Susana, meu tesão, tinha dormido comigo e a plenitude do equilíbrio que a conexão física causava, se manifestava agora naquele estado prazeroso.

Estava preparado para conter os sinais da fome com o numerário que trazia. Quando não houvesse mais condições para a resistência, a capitulação se daria com o ingresso num posto de conveniência, lá incorporando à constituição, alguns pães de queijo mineiros feitos, quem sabe na hora. Um suco substancioso de laranja poderia liquefazer o estado gelatinoso do sangue, assim transformado pelo calor, fricção e suor.

O sol não estava forte de modo que a frescura que se sentia nas sombras das casas, ao longo das ruas, tinha algo de constringente.

Nos fios e nos raros galhos das árvores singulares bem-te-vis trocavam sons agudos e emotivos exprimindo suas percepções. Os cães não ladravam. Aquelas não eram horas de cães. Dormiam recolhidos certamente.

Alguns ciclistas solitários ganhavam mais capacidade e resistência cardio-respiratória com seus esforços mecânicos rítmicos, lentos e constantes. A oxigenação que proporcionava aquela atividade extenuante era também atributo à agilidade espiritual.

Próximo já do centro podia-se perceber que a aglomeração, azáfama, e a temperatura eram exacerbadas.

Motoristas disputavam espaços nas ruas não muito largas. Ressacas da noite anterior provocavam certas irritabilidades anti-sociais que se não contidas, também pelos freios internos, poderiam desencadear violências condenáveis.

Alguns moleques cheiravam cola, esparramados em certos bancos fronteiriços aos monumentos históricos.

Bucólico e melancólico, sedento de movimento e ação via nos outdoors a inspiração para viagens internacionais. Com o poderoso zap imaginativo justapunha lembranças do que era o viver ali no interior com o que poderia ser na capital do mundo.

Assim exaurido, extenuado e feliz, de volta pra casa pude ainda antes das três horas, almoçar aquele suculento macarrão com frango e Coca-Cola. Verdadeira oblação dos céus.

 
 
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