Nem toda pessoa
que ri muito tempo depois que a piada acabou de ser contada é porque não
entendeu a piada. Tem gente que ri na hora, mas também ri de memória.
Gente que no meio de uma reunião importante solta uma gargalhada e, diante
dos olhares reprovadores, se desculpa: "É que lembrei daquela piada
do papagaio".
Rir de memória é uma grande vantagem quando não se tem um bom livro ou
um bom filme por perto: é diversão garantida em qualquer lugar, a qualquer
hora. Também pode ser muito econômico ou útil para quem gosta de zapear
na frente da televisão. O bom zapeador não demora mais do que trinta segundos
em cada canal. Quando pega um quadro d'O Gordo e o Magro, por exemplo,
assistir a uns poucos segundos é o suficiente para rir enquanto se faz
o passeio completo por todas as dezenas de canais. O guardador de risos
ri não só da cena que acabou de ver mas de todas as outras cenas d'O Gordo
e o Magro que ele já viu. Como as cenas são basicamente as mesmas - trapalhadas,
quedas, giros, enganos... -, basta ver um pouco para ter visto tudo, e
rir só de memória.
O nosso querido presidente Fernando é outro que se presta muito bem ao
riso posterior. Suas declarações, seja numa visita oficial a um país estrangeiro,
seja na inauguração de uma escolinha no interior do país como parte da
preparação da campanha do seu sucessor, o ministro da Educação Paulo Renato,
seja num pronunciamento oficial em cadeia de rádio e televisão, sempre
fazem lembrar daquela piada do papagaio, e provocam o riso fácil. Tem
gente que não se dá nem ao trabalho de ouvir o que o presidente tem a
dizer de novo: basta vez a cara do Fernando que cai na risada.
O único incoveniente com o Fernando é que o humor dele se assemelha ao
do Woody Allen. A gente ri, ri, ri que se acaba e no final, já com a garganta
arranhada, a barriga doendo e os olhos cheios d'água, a gente descobre
que nós é que somos o motivo da piada e que estávamos, feito idiotas ignorantes,
rindo de nós mesmos.
Mas que o presidente parece um papagaio, ah, isso parece!
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