É
MEU!
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Paulo
Panzoldo
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Independência
nunca foi sinônimo de liberdade, pelo menos para nós, tupinicas. Do "Independência
ou Morte" de D. Pedro I ao "Exportar ou Morrer" de D. Fernando,
o Henrique, o que tem prevalecido por aqui é a mais pura hipocrisia. Cabral,
tido como o autor do descobrimento do Brasil, nada mais foi do que o primeiro
líder sem-terra de nossa História. Invadindo e tomando posse das terras
dos verdadeiros tupiniquins, ganhou uma estátua aqui na cidade de São Paulo,
situada às margens do lago do Ibirapuera (palavra indígena que desconheço
o significado), onde, eventualmente, permanece iluminado, mesmo sob as leis
do apagão.
Sou do tempo em que a História do Brasil era contada de maneira diferente, romântica. A História da Proclamação da Independência, por exemplo, era baseada no quadro de Pedro Américo, e não nos fatos reais, frios. D. Pedro I montava um imponente cavalo, cercado pelos 'dragões', ainda dependentes, e retornava de Santos quando, às margens do Ipiranga (outra palavra indígena), recebeu uma notícia qualquer. Nervoso, desembainhou a espada e gritou: Independência ou Morte! Hoje conta-se às crianças que o quadro não passa da imaginação do pintor. O nosso Imperador estava mesmo era montado numa mula e as condições foram, na realidade, bem diferentes daquelas que Dona Lídia, minha professora, contava. O fato é que não nos tornamos independentes e permanecemos vivos, acreditando que éramos livres, até que o ideal republicano substituiu o conceito de liberdade. A República, então, nos traria a liberdade. Expulsamos D. Pedro II e sua família. Tenho minhas dúvidas se aqui mantivéssemos o Imperador, mesmo que com direitos políticos cassados, o Brasil não seria hoje independente em diversas áreas nos campos da Ciência, da Educação e da Cultura. Pensando friamente, esses fatos nos tornam um povo verdadeiramente hipócrita. Roubamos as terras dos índios, que com elas perderam também sua liberdade, reconhecemos o direito a Autodeterminação dos Povos, mas só de outros, não do nosso. Tem aí uma Lei ordinária que proíbe. Mas não só a hipocrisia é fator de risco de perda da liberdade. Tem também a corrupção, o espírito de facção e diversos outros fatores que não cabem nesta crônica, porém, tem gente por aí pregando que o Estado deve investir uma parcela menor em Saúde e Educação, transferindo os recursos para a Segurança Pública. Afinal, de que adianta fazer um mestrado grátis, se é para se levar um tiro durante um assalto? Falam como se o Brasil inteiro tivesse mestrado 'grátis', quando a realidade é que tem uma penca de analfabeto que não tem nem onde morar e não precisa levar tiro para encontrar a morte. Para esses, basta a omissão do Estado dito democrático de direito, que arrecada 35% do PIB em impostos e... A corrupção destruiu o Império Romano e vai destruir o Império de D. Fernando. Gigantes e anões impunes garantirão que muito sangue será ainda derramado em nome da liberdade, sempre almejada, jamais conquistada. Alguns tentam culpar Maquiavel, coitado, quando na realidade o que ele deixou escrito foi: "Um povo que se tornou corrupto não pode gozar de liberdade nem por um curto espaço de tempo, não, nem sequer por um momento." Tenho muito em comum com os corruptos. Chamam-me Paulo, sou depressivo e minha hipertensão provocou uma hipertrofia ventricular. Além disso, juro que não tenho contas na Suíça ou em qualquer outro paraíso fiscal. Meu sigilo bancário está aberto, mas minhas contas estão fechadas pelo Banco Central do Brasil. Meus cartões de crédito foram cancelados por falta de pagamento e juro que estou falando a mais absoluta verdade. Pior do que perder a liberdade é perder a vergonha na cara, mas já que é para ser assim, que seja então com muito dinheiro no bolso. E, já que ninguém sabe de quem é o dinheiro depositado na tal ilha de Jersey, confesso: é meu! |