CADA
UM PERDE O QUE TEM
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Eduardo
Loureiro Jr.
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Cada
um de nós perdeu alguma coisa com esse duplo seqüestro na família do Sílvio
Santos. Eu perdi, antes de mais nada, a coisa em si, os dois seqüestros.
Não olho carro batido na rua, não olho corpo estendido no chão... por que
haveria de olhar, pela televisão, um seqüestro? Devo ter perdido o melhor
da festa: lágrimas, choros, declarações bombásticas, furos de reportagem...
Mas, zapeador que sou, vi algumas cenas em alguns canais, nos intervalos da partida do Fernando, não o Dutra Pinto, mas o Meligeni contra o Tim Henman. Não era um dia para os fernandos, os dois perderam; lutando até o final, fazendo bonito, mas perderam. E essa é a nossa primeira perda com o caso: não podemos mais confiar em Fernandos. São bonitos, são simpáticos, são gentis, mas, na hora do vamos ver, perdem, abandonam, se entregam, e ficamos nós com a torcida na mão. Fernando Collor, Fernando Henrique, Fernando Meligeni, Fernando Dutra Pinto... Por favor, não botem mais esse nome nos filhos de vocês. Tem Hermegildo, Chananeco, Spiridon... não botem Fernando! Outra perda foi a de qualquer noção de segurança. Tudo bem que já não nos sentíamos mais tão seguros assim, mas um seqüestrador matar dois policiais e voltar para a casa da vítima para garantir que não seja morto pelos colegas dos policiais mortos é demais! Está mais fácil entrar na mansão do homem mais rico do Brasil do que ganhar uma casa no Baú da Felicidade. Eu já retirei as grades daqui de casa. Ser ou não assaltado não é mais questão de prevenção, mas de sorte, sorteio, loteria. Vendi as grades para um ferro-velho e comprei tudo em bilhetes da Mega-Sena. No dia em que for sorteado, reservo logo 500 mil para o primeiro seqüestrador que aparecer. Outra coisa é essa mania da Globo de chamar "ace" de saque indefensável e "backhand" de revés. Para todos os efeitos, quem era mantido sob refém não era o Sílvio Santos mas o Senor Abravanel - aliás, outro bom nome para o seu filho, ao invés de Fernando. Ouvindo o Carlos Nascimento falar Abravanel para cá, Abravanel para acolá, tive a maior de todas as sensações de perda: tudo bem que ganhamos, nesses anos todos, o Domingo no Parque, o Qual é a Música, o Cidade contra Cidade, o Namoro na TV, o Topa-tudo por Dinheiro... mas digam se não é uma lástima o Senor Abravanel ser um grande empresário de comunicação e não um dos Smurfs. |