ACHADOS E PERDIDAS
Bárbara Helena
 
 

 

Alfredo,

Que idéia brilhante a tua de ir justamente no Motel Beira-Mar!...

Eu já não tinha falado que a tua mulher andava desconfiada e vinha me fulminando com olhares atravessados desde aquela história do anel igualzinho ao dela que tu me destes no meu aniversário? E não adiantou dizer que herdei de um tio alfaiate porque esta história já não cola mais. Parece que foi usada outras vezes, não sei bem por quem . . .

Por causa deste teu romantismo às avessas, todo bairro anda me olhando de cara feia.

Eu finjo que não ligo, quero mais é que eles todos se danem!... Bando de hipócritas metidos a santinhos!...

Bem sei que é tua mulher que fala mal de mim, manchou minha reputação e ainda pôs meu nome na boca do sapo. Aquilo é macumbeira desde menina. Freqüenta uma encruza como tua santa mãe vai à missa. Fez mais de mil despachos para acabar com a minha vida.

Mas o meu anjo da guarda é forte, Alfredo. Ninguém consegue me derrubar.

Se estou contigo é porque te amo e não tenho nada a perder.

Quer dizer, a reputação eu já perdi desde que te conheci no bar do Ambrósio, com aquele perfume de lavanda e este teu jeito de me chamar de meu dengo.

Mas a carteira de identidade eu não posso perder, criatura. Sem ela não consigo trabalhar.

Você vai ter que mandar o teu sósia de novo lá no Motel Beira-Mar e descobrir onde ela está. Porque se não aparecer, o barraco que eu vou armar não vai ser brincadeira.

O bairro vai tremer.

Eu perco a carteira. Mas tu corres o risco de perder nós duas.

Tua por enquanto,
Laurinda

 

 
 
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