Alfredo,
Que idéia brilhante a tua de ir justamente no Motel Beira-Mar!...
Eu já não tinha falado que a tua mulher andava desconfiada e vinha
me fulminando com olhares atravessados desde aquela história do
anel igualzinho ao dela que tu me destes no meu aniversário? E
não adiantou dizer que herdei de um tio alfaiate porque esta história
já não cola mais. Parece que foi usada outras vezes, não sei bem
por quem . . .
Por causa deste teu romantismo às avessas, todo bairro anda me
olhando de cara feia.
Eu finjo que não ligo, quero mais é que eles todos se danem!...
Bando de hipócritas metidos a santinhos!...
Bem sei que é tua mulher que fala mal de mim, manchou minha reputação
e ainda pôs meu nome na boca do sapo. Aquilo é macumbeira desde
menina. Freqüenta uma encruza como tua santa mãe vai à missa.
Fez mais de mil despachos para acabar com a minha vida.
Mas o meu anjo da guarda é forte, Alfredo. Ninguém consegue me
derrubar.
Se estou contigo é porque te amo e não tenho nada a perder.
Quer dizer, a reputação eu já perdi desde que te conheci no bar
do Ambrósio, com aquele perfume de lavanda e este teu jeito de
me chamar de meu dengo.
Mas a carteira de identidade eu não posso perder, criatura. Sem
ela não consigo trabalhar.
Você vai ter que mandar o teu sósia de novo lá no Motel Beira-Mar
e descobrir onde ela está. Porque se não aparecer, o barraco que
eu vou armar não vai ser brincadeira.
O bairro vai tremer.
Eu perco a carteira. Mas tu corres o risco de perder nós duas.
Tua
por enquanto,
Laurinda
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