INIMIGO ÍNT(MÍN)IMO
Larissa Schons
 
 
Pobreza e miséria sempre existiram desde que mundo é mundo. No entanto na atualidade esses cancros assolam com voracidade ainda maior cada parte de nossa Nação. Mas, vem cá, isso aqui não é um artigo político, nem crônica. Então? Então eu estou é enrolando você. Isso mesmo, caro leitor. Estou na dúvida se devo confessar ou não uma certa coisinha a você.

É que eu não gosto de falar de inimigos, muito menos os íntimos. Complicado, né? Ainda mais que eu não sei se você está preparado para ler o que eu tenho a dizer. Mas chega de lerô lerô, vem pra cá que eu também quero.

Tá bom, tá bom, vou dizer-lhe sobre o meu inimigo. Meu inimigo íntimo, mas que agora é público porque você vai ficar sabendo é. . . . . . . . . . . . . . . . . . . é. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pois é. . . . . . . . . . . . . . . . que vergonha. . . . . . . . . . . . . . . . . . é. . . . . . . . . . . . . . . . um piolho. Exatamente isso que você está lendo. O meu inimigo íntimo é um mínimo piolho.

Ficou constrangido, caro leitor? Achou nojento? Estranho demais? Eu explicarei nos mínimos detalhes essa historia pra você. Primeiro queria dizer que sempre tive um cabelinho de Rapunzel. As meninas tinham invejado meu cabelo comprido. Os meninos adoravam quando eu jogava as minhas tranças. Era muito alvoroço em cima do meu cabelo. Até que um dia tive uma coceirinha aqui, outra ali, e o monstrinho apareceu.

Minha mãe ficou apavorada e dizia: - Mariazinha, mariazinha, que sujeira! Menina com piolho é o cúmulo? E eu respondia: Mamãe, apesar de um piolho caolho eu sou limpinha, viu. Aiii! Ele me picou. Ah! Seu caolho, ai, caolho, aii, caolho, aiii.

Eu e mamãe decidimos que tínhamos que acabar com aquele piolho caolho. Fomos na farmácia comprar todo tipo de remédio pra piolho. Usei xampu quitoso, gorduroso, leitoso, gracioso, precioso e nada. Meu inimigo continuava na minha cabeça. E cada vez me infernizava mais. Era só chamá-lo de caolho que ele me picava.

Meu irmão Joãozinho aconselhou mamãe a cortar o meu cabelo de Rapunzel. Eu não podia deixar. Meu cabelo era tudo pra mim. Eles não podiam fazer isso comigo. Mas a verdade é que os dois queriam me ver carequinha da silva. Porém, agora eu tinha um ser do meu lado. Sim, eu podia contar com o piolho caolho.

Descobri que além do cabelo tínhamos outra coisa em comum. Éramos extremamente vaidosos. Eu com o meu cabelo e ele com a minha cabeça. Fui me acostumando com ele. Parei de chamá-lo de caolho. Apelidei-o de Lulu. Ele era muito exigente. Me obrigava a usar um chapeuzinho vermelho para proteger minha cabeça do sol. E tinha um gosto maravilhoso para escolher xampus. Escolhia sempre os mais cheirosos e claro, os mais caros também. Acabei me acostumando com aquele inimigo mínimo.

Um dia quando eu estava fazendo minhas compras, quer dizer, nossas compras, senti que o Lulu suspirava sem parar e me coçava e me picava. Eu não estava entendendo o porquê daquela crise. Foi aí que eu vi um cachorro branquinho e em cima uma linda pulguinha rosa.

Lulu se apaixonou por aquela pulga que depois eu vim, a saber, que se chamava Lili, e saiu à procura de sua amada. Estou há dias sem o meu piolho caolho. Ele foi atrás da sua pulga Lili. Sinto tanta falta do meu inimigo de estimação. Meu cabelo ultimamente estava tão brilhoso. Sinto um carinho muito grande por ele e é difícil confessar que sou totalmente dependente do meu piolho caolho. Foi por isso que resolvi contar essa historia para você. Preciso da sua ajuda, caro leitor. Quem sabe você saiba onde possa estar o meu piolho caolho. Ou quem sabe aquela pulga rosa Lili. Ah! O cachorro branquinho chama-se Floquinho. E eu já o vi outros dias lá pelas bandas da Esplanada. Se você puder me ajudar me escreva.

 
 
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