CUPIM
|
Cleomar
Santos
|
Zebedeu
olhou no espelho, sua cara, deslavada. Na cama dormia a centésima primeira
(puro chute pois pouco interessava a ele). Ela ressonava entre príncipes
e castelos, dormia sem perceber o pavor de Zebê. O coitado (posso dizer
assim), com o rosto sendo consumido pelos cupins. Comiam como loucos.
Deu no que deu, a cara-de-pau. Sequer pensou uma segunda vez (como sempre),
cruzou a porta do banheiro e buscou alívio embaixo do chuveiro. Faltava
água. Entre tapas e gritos, os afastou com a toalha. Eram muitos. Gritava
e ela, dormia.
Cada qual chamava outros, que chamavam outros tantos, até que ficou insuportável. Em gritos, entrou novamente no quarto e notou a moça dormindo. Como, como pode não estar percebendo seu sofrimento, seu desespero? Como não está ouvindo seus gritos, o terror, por mais que mostre? Sim, dormia. Sonhava com príncipes e castelos. Castelos de pedra, onde os cupins nada podem aproveitar e príncipes fictícios, como fictícias eram as mulheres para Zebê. Mães, tias, primas, presidentes, médicas, advogadas. Fíctícias. Eram uma cama e nada mais, tamanha cara-de-pau, egoísmo, insensibilidade. Agora, com um toco de cabeça, quase nada na realidade, porém com a experiência de ter sido largado aos cupins, talvez, com o tal toco, tenha melhores condições de espantar seu inimigo interior. |