ELEMENTO
PERIGOSO
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Regina
Borges
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Tenho "uma sósia", que ainda não descobri quem é. O seu caráter? Bem, ela parece ter um comportamento duvidoso. Dia destes eu estava no Shopping, embevecendo minhas fantasias consumistas diante de vitrines repletas de novidades, quando descobri que ter aquele elemento que se parece muito com a gente pode ser fascinante (quando este menecma é gente famosa, rica, bem situada), mas por outro lado pode ser catastrófico quando a assombrosa semelhança for uma mulher envolvida com programas apimentados. Quando tenho folga da Escola gosto de caminhar, bisbilhotar por ai, checando preços, analisando as ofertas de mercado. Sempre existe alguma "coisinha" querendo ser comprada por nós, não é mesmo? Pois eu estava lá, olhando uma vitrine de perfumes importados, averiguando o preço do meu preferido, "Poison" de Christian Dior, quando senti uma fungada no meu cangote. Assustada, mas com calma, pensando ser brincadeira de um de meus amigos, virei-me para trás e dei de cara com um estranho com cara e jeito de galã sedutor. Era um senhor de cabelos grisalhos, presumivelmente um simpático candidato a vovô, um desquitado solitário, ou um viúvo em busca de emoções fortes. O bem apanhado e atrevido desconhecido, chamando-me de "Rosinha", convidava-me para um "delicioso programa". Disse-lhe com "todas as letras" que Rosinha era a "mãe". Com certeza estava confundindo "gênero humano com José Germano". O velhote era abusado e disse-me, também com todas as letras, que não se enganava nunca quando ficava com uma mulher. Tentei safar-me o mais rápido possível, andando com passadas largas pelo Shopping, tudo para despistar o confuso sedutor. Seguia-me porém o assanhado da terceira idade e, de vez em quando, dava-me piscadelas comprometedoras. Eu estava em apuros. Até beijinhos o safado jogava, cheio de charme. Pensei ligar para minha amiga Licinha, que costuma resolver qualquer parada, mas seria um verdadeiro escândalo. Todo mundo ficaria sabendo que eu tinha uma semelhança física chamada "Rosinha", que fazia programas libidinosos com velhinhos aposentados. Resolvi tomar uma atitude.Fui para a Praça da Alimentação, onde estava acontecendo um happy hour. Descolando uma mesinha (para uma só pessoa), é claro, para não dar chances ao vovô galanteador, pedi uma cervejinha com fritas. Ali, com certeza estaria sã e salva. O galã com aparência de "pão dormido" estaria fora de combate. Qual o quê! De repente, um rapaz, um boy, pede-me permissão para entregar-me um ramalhete de rosas vermelhas acompanhadas de um cartão, onde com uma letra trêmula havia sido escrita a seguinte mensagem: "Rosinha, jamais esquecerei aquela noite". Confesso que até fiquei curiosa para saber o que a safada da "Rosinha" havia feito com aquele traste para ele ficar tão apaixonado, mas recusando o ramalhete, pedi que o rapaz devolvesse as flores, ao que ele respondeu: Dona, vai pegar mal. As rosas são tão bonitas. Tudo bem, fechei a cara e continuei a tomar a minha cervejinha. De repente o rapaz que cantava no palco disse ao microfone: O sr. Alair oferece a próxima música para a srta. Rosinha, que está ali, naquela mesa, com aquela blusa vermelha. Quase morri de vergonha! Todos os olhares viraram-se para mim. Queria afundar no chão, desaparecer... E se algum amigo do meu marido estivesse por ali? Que "mico" eu estava pagando. A música era nada mais, nada menos do que "Eu sei que vou te amar". Palmas para todos os lados. O amor é lindo, segredou uma vovó erguendo um brinde em minha direção. Ninguém para socorrer-me. De repente, como que por encanto, apareceu a Margarida,uma professora, amiga de trabalho, também de folga, e também de blusa vermelha. Disse-me um olá como vai e em seguida a pergunta de praxe: O que faz por aqui? Respondi "tiririca da vida": Estou aqui, tentando descobrir quem é a minha sósia e planejando uma estratégia para ficar livre de um velho tarado. Quando saímos do Shopping, o safadinho paquerador deu-me um adeusinho confidencial dizendo: Até a próxima, "Rosinha". |