MEUS CARÍSSIMOS SÓSIAS
Paulo Panzoldo
 
 
Sósias perfeitos tenho pelo menos dois. Ambos dependem da existência de luz para se fazerem presentes. Um é minha sombra, meu lado obscuro, outro é meu reflexo na água, no espelho ou nos vidros das vitrines; costuma ser um pouco mais colorido que o outro, além de mais comportado. Em tempos de apagão fica um pouco mais difícil a presença desses dois, mas tudo bem, ainda tenho a Lua, que nem sempre é nova.

Evidentemente tenho outros sósias, que já me causaram mais dissabores que alguns homônimos caloteiros a pessoas com nomes mais comuns que o meu.

Culpa sua, meu sósia, que fez um palmeirense agüentar um barbeiro falando durante quase cinqüenta minutos sobre o último jogo do "Timão". Tudo bem, que se você me perguntar a atual escalação do "Palestra" eu responderei que o goleiro é Emerson Leão, que o Ademir da Guia joga um bolão e que o Cesar anda meio desaparecido. Quando o barbeiro - qualquer barbeiro - me pergunta "como quer o corte?", respondo "curto e calado, por favor". Mas esse... teve jeito não, cara. Tec daqui, tec dali, Timão, Timão, Timão.

Culpa sua, meu sósia, que quase acabou com meu casamento por possuir um carro da mesma marca, cor e modelo que o meu e ficou dando uns amassos numa loira, lá atrás da Igreja do Largo da Matriz. Tudo bem que ela era uma gracinha, mas foi você que faturou a loira e fui eu quem pagou o pato.

Culpa sua, meu sósia, que andou aprontando lá pelos lados de Salvador, Bahia. Por sua causa levei um tabefe de dar gosto de um baixinho vestido à safári que usava um bigodinho do tipo "mamãe quero ser gay", pagando o maior mico numa das mais badaladas casas noturnas da capital baiana.

Sorte sua, meu sósia, eu ser relativista e procurar enxergar o terceiro lado da moeda.

Sorte minha, meu sósia, eu ter conhecido Batista, o barbeiro, que é um mestre da tesoura e que falava do "Timão" só para lhe agradar. Na verdade ele é sãopaulino roxo e você é que não sabe. Sorte minha, meu sósia, que você foi visto por mim e minha esposa, dando uns amassos numa tremenda morena, dentro de um carro da mesma cor, ano e modelo que o meu, atrás da Igreja de São Benedito. Até parei só pra te atazanar, lembra? Mulheres diferentes, igrejas diferentes. Sorte minha meu sósia, que o cara baixinho, vestido à safári e que usava um bigodinho "mamãe quero ser gay" e que me deu um tabefe numa das mais badaladas casas noturnas de Salvador, lá na Bahia, era o gerente do boteco. Paguei o mico, mas a minha conta, mano, foi debitada na sua. Anda ligeiro e te cuida que ele, um dia, vai te cobrar.

 
 
fale com o autor