APELIDOS
E APARÊNCIAS
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Maurício
Cintrão
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Bem
que eu gostava de usar boina. Ficava legal, dava um ar mais europeu ao meu
perfil árabe. Já era moda entre os companheiros do Sindicato dos Telefônicos,
onde eu trabalhava. Portanto, não foi difícil me habituar ao gênero. Aliás,
com o frio dos meses de inverno em São Paulo, a boina cai bem para proteger
a cabeça do sereno da madrugada.
Pois bem, um dia, em um piquete, um cara que fazia oposição aos meus amigos sindicalistas, passou por mim e fez o maior escândalo: "É o Mario Bros! É o Mario Bros!". Fiquei tão envergonhado de parecer uma personagem de video game (e com as gozações que se seguiram) que aposentei a boina. Sei lá por que motivo, sempre acham que sou parecido com alguém ou alguma coisa. Nunca é para melhor. Isso vem desde a infância. Ficava mordido de raiva quando, ainda pequeno, meus irmãos me chamavam de Touchet (tinha cara de tartaruga, como aquela personagem dos desenhos). Na rua de casa, no Ipiranga, fiquei conhecido como Guindaste (porque era grande e desengonçado). Depois, chorei de balde quando os amigos de praia me chamaram de Chico Bóia (dadas as dimensões avantajadas e excelentes propriedades de flutuação no mar). Eu já deveria estar acostumado. Mas não consigo. Ainda me surpreendo. Dia desses estacionei o carro no meio-fio. Estava de novo na fase cabeludo e bigodudo. Uma senhora passou pela calçada, olhou bem para mim e comentou com a colega ao lado: "Visse? É Castro Alves!". E riu da minha cara, sem a menor cerimônia. Compreende a dificuldade? O fato é que, de todos os apelidos, o que pegou de verdade teve origem lá atrás, quando estreou o desenho animado, "Mogli, o menino lobo". Logo em seguida já estavam me chamando de Balu, nome do urso do filme. Os arqueólogos familiares dizem que o cognome não teve a ver com a pança proeminente, mas com o meu caminhar desengonçado. Deve ser verdade. Era só eu passar que logo ouvia alguém cantando a musiquinha: "necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais!". Ainda hoje, alguns parentes e amigos me chamam de Balu. É o caso dos meus irmãos e sobrinhos e, especialmente, do pessoal brincalhão da lista de discussões da Gréia, de Pernambuco. Para eles, minha família é a Balulândia. Meu filho mais velho é o Balu Jr.. Minha mulher é a dona Baluzona. E os filhos menores são tratados genericamente como Baluzinhos. Mas eu escrevi tudo isso para dizer que ando muito preocupado. De uns tempos para cá, cismaram em dizer que eu sou a cara do Ratinho. Ah, não, isso não! Sei muito bem que apelido bom é aquele que incomoda a vítima. Finjo que não ligo, mas incomoda. Ser sósia do Ratinho é demais!!! Preciso fazer alguma coisa! Até por que, já fui confundido com ele na rua. A vantagem é que isso só acontece quando corto o cabelo e aparo o bigode. Quer saber? Não vou mais ao barbeiro. Logo, estarei cabeludo e bigodudo novamente. Como os dias andam meio frios, posso até voltar a usar boina. Não é uma boa idéia? Afinal, TV por TV, eu prefiro ficar com o vídeo game. |