A SÓSIA
Eliana Pace
 
 
Eu nunca sou eu. Isto é: eu me sinto eu, sei quem eu sou, como me chamo mas, para os outros, eu não sou eu, dá pra entender? A vantagem é que sou sempre alguém mais famoso, melhor assim. Sé é pra ser outro, que o outro venha agregar atributos.

Houve um tempo em que eu era a cara da Glória Menezes. Você é ela, não sou, é, não é, e eu não tinha a meu lado nem ao menos um arremedo do Tarcísio Meira para comprovar a tese do outro de que eu era ela. Só que eram os tempos do filme O Pagador de Promessas, a Glória era bem mais jovem, eu mais ainda do que ela que não tinha se submetido às inúmeras plásticas que a deixaram diferente dela e de mim, dá pra entender?

Aí, cismaram que eu era a Betty Faria. Mas como não é? É a cara dela. E eu ficava dando tratos à bola para saber o que havia mudado tanto em mim para passar da Glória para a Betty. Por conta dessas loucuras, acabei dando um autógrafo uma vez. Eu estava em um Festival de Cinema, um garotinho me viu e veio correndo, papel e lápis na mão. – Não sou artista não, moleque. – Não faz mal, assina assim mesmo. E eu fiz um garrancho qualquer em um papel, já nem sei se de Glória Menezes ou de Betty Faria.

Os anos foram se passando, eu acabei casando e uma tarde, no elevador, veio a pergunta fatal. – Você não é a Zélia Martins? – Mas quem é Zélia Martins, eu ainda perguntei. Para ouvir como resposta – Ah, não adianta disfarçar, há muito tempo que eu sei que você é a Zélia Martins e seu marido é o Fernando Torres...

 
 
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