JAVALI
Cleomar Santos
 
 

Porco, disse minha esposa, no segundo ano de casamento. Poxa, dava para ser pelo menos um javalizinho? Não, porco mesmo. Meias pela sala, coisa de porco; barba mau feita, em um domingo: porco. Javali é coisa mais nobre. Livros espalhados, pedaços de unhas cortadas por todo o carpete. Sim, porco. No cartaz do restaurante, o de gente fina, serviam javali; nobre, no meu caso, não me enquadro.

Todo homem é assim? Que porcaria!

Por favor, peço um momento, vou tirar as cuecas do chão (pelo menos está no chão do quarto) mas, sei, já foram encontradas na cozinha, pelo cachorro (que sequer cheirou).

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Voltei! Digo para vocês que ela tem razão. Sabem por que sei? Ela não foi a única. Meus amigos reclamam pelos contratempos provocados por refrigerantes gasosos. Arroto ao ponto de haver refluxo (viu, vai me dizer que você não me chamou de porco agora?).

E tem também os pingos. E vocês sabem exatamente de que pingos falo, ainda mais se forem mulheres. Sempre reclamando dos ditos. Pedem para o homem ser mais sensível, chorar e reclamam dos pingos. Sei, querem lágrimas, sensibilidade e não os tais. São pingos diferentes e de lugares diferentes. Bem, está feito o trato: a partir de agora me esforçarei para subir de posto. Perca as esperanças, quero chegar somente até o status de javali.

 
 
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