Alfredo,
Eu
acredito em duendes.
Acreditei
quando tu me disseste que tua família ia passar só uma semana
aqui em casa.
Depois
me cobraste porque escrevi umas graças sobre eles. Reconheço que
exagerei, mas é esta minha credulidade que me perde, Alfredo.
Acreditei
que tu eras trabalhador e responsável quando a gente se conheceu
no Cordão do Sobejo, naquela quarta-feira de cinzas, chuvas e
paixão. Acreditei no teu amor. E que todas as mulheres de passagem
eram apenas colegas de trabalho.
Eu
acredito em bruxas. E até no teu inglês de camelô, treinado na
viagem que fizeste a Miami Beach dos delírios, que fica logo ali,
descendo um pouco a praia de Ramos.
E
na casinha só para nós dois. E que ias deixar o jogo, a cachaça
e as mulheres da zona só para ficar comigo. Acredito em coisas
que até Deus duvida, Alfredo.
Até
aceitei aquela explicação que tu me deste de que todos nós temos
um sósia, uma cópia perfeita andando por aí, em algum lugar. Posso
até acreditar que esta tal imitação da tua pessoa, por uma incrível
coincidência, também freqüente o Motel Beira-Mar. E que não eras
tu saindo de lá às cinco horas da tarde para pegar um carro, também
por espantosa coincidência, igualzinho ao do teu amigo do peito,
o Ali Babá.
Agora,
que este teu clone tivesse aquela mesma tatuagem de sereia flechada
no braço e estivesse abraçado logo com a Laurinda, não dá para
engolir.
Eu
não sou idiota, coração.
Coincidência
tem limite. É possível que existam duas pessoas iguaizinhas no
mundo. Mas com o mesmo mau-gosto?
Francamente,
não dá pra acreditar.
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