QUESTÃO DE FÉ
Bárbara Helena
 
 

 

Alfredo,

Eu acredito em duendes.

Acreditei quando tu me disseste que tua família ia passar só uma semana aqui em casa.

Depois me cobraste porque escrevi umas graças sobre eles. Reconheço que exagerei, mas é esta minha credulidade que me perde, Alfredo.

Acreditei que tu eras trabalhador e responsável quando a gente se conheceu no Cordão do Sobejo, naquela quarta-feira de cinzas, chuvas e paixão. Acreditei no teu amor. E que todas as mulheres de passagem eram apenas colegas de trabalho.

Eu acredito em bruxas. E até no teu inglês de camelô, treinado na viagem que fizeste a Miami Beach dos delírios, que fica logo ali, descendo um pouco a praia de Ramos.

E na casinha só para nós dois. E que ias deixar o jogo, a cachaça e as mulheres da zona só para ficar comigo. Acredito em coisas que até Deus duvida, Alfredo.

Até aceitei aquela explicação que tu me deste de que todos nós temos um sósia, uma cópia perfeita andando por aí, em algum lugar. Posso até acreditar que esta tal imitação da tua pessoa, por uma incrível coincidência, também freqüente o Motel Beira-Mar. E que não eras tu saindo de lá às cinco horas da tarde para pegar um carro, também por espantosa coincidência, igualzinho ao do teu amigo do peito, o Ali Babá.

Agora, que este teu clone tivesse aquela mesma tatuagem de sereia flechada no braço e estivesse abraçado logo com a Laurinda, não dá para engolir.

Eu não sou idiota, coração.

Coincidência tem limite. É possível que existam duas pessoas iguaizinhas no mundo. Mas com o mesmo mau-gosto?

Francamente, não dá pra acreditar.

 

 
 
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