FATALIDADE
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Renata
Manzano
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Não, não foi planejado. E, no entanto, não se sentia consumida pela culpa, como imaginara. Pelo menos, não mais agora. Se por apenas alguns instantes ela se deixasse levar, notaria que uma serenidade estranha ia tomando conta de tudo... Doce sensação de familiaridade. Foi, na verdade, como a calmaria chegando depois de noite tempestuosa. Em meio às dúvidas, momentos felizes reluziam, assim como pequeninas estrelas na manhã mais radiosa de que podia se lembrar. (Abro aqui um parêntese. Isso porque não é fácil descrever coisas como estas que andaram acontecendo, situação essa que fugiu totalmente do controle; ora, como se alguém pudesse controlar todas as variáveis e/ou constantes de uma situação qualquer que seja, como em um laboratório. Trata-se talvez de uma fatalidade. Ainda penso que somos produto de nossas escolhas, mas nem sempre temos a chance de escolher...) Com apenas um passo para o lado, obtém-se novo ângulo de visão. Perspectivas totalmente diferentes. De repente, o mundo pareceu encher-se de música. Passos oscilantes, como os de quem avança muito cautelosamente, somam-se aos dias únicos, vividos como se fossem os últimos. Ela não sabe realmente do que se trata. Não é algo linear, nem simples. Mas é algo que transcende o visível, que burla as barreiras do previsível, e calmamente vem alojar-se no seu íntimo, como uma resposta irônica a tudo que ela conhecia por verdade. Enfim, apenas aconteceu. |
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