Tema 035 - PARÊNTESES
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UM HOMEM (IN)DIFERENTE
Luís Valise

Este era Yug. Filho de um hindu cheio de mistérios, com uma japonesa descendente de samurais, herdara um cipoal de filosofias e hábitos que lhe renderam uma capacidade ímpar, que era conseguir quantas ereções quisesse e mantê-las pelo tempo que bem entendesse. Na escola fazia demonstrações em troca de dinheiro. De estatura mediana, mantinha um físico delgado e flexível por artes de uma vida feita de muito método e nenhum excesso.

Trabalhava na área de segurança de importante multinacional em razão de seus traços orientais: dissera-se especialista em judô, kempô, aikidô, e outras brutalidades. Não pediram diplomas ou demonstrações. Confundiram vazio com serenidade. Passava os dias andando por entre as linhas de montagem com cara de poucos amigos e as mãos cruzadas para trás. Olegário, sergipano miúdo de bigodinho ralo não gostava daquilo, achava-se injustamente vigiado. Falou baixinho pro Yug: te espero depois da saída na rua dos fundos.

Yug bateu o ponto e foi encontrar o outro, cheio de curiosidade. Chegou e viu a cara feia: ocê acha que eu tô robano? Enquanto Yug pensava na resposta Olegário bateu a mão no chão, rodou as pernas velozes numa espécie de ciclone e deu com o calcanhar em cheio na mandíbula de Yug, que bateu com as costas no muro e sentiu os joelhos dobrarem. Ficou sentado no chão até passar a escuridão. Levantou. O sergipano já fora embora. Ninguém ficou sabendo. Yug continuou fazendo a ronda de mãos cruzadas às costas, baixando os olhos ao passar pela seção do bigodinho.

No refeitório da firma trabalhava uma lourinha peituda, Daiana. Na fila do bandejão do almoço Yug ficava de olho nela, que não dava pelota pra ninguém. Quando Yug se aproximava com o prato ela escolhia o maior pedaço de carne, caprichava no feijão, e na entrega do prato seus dedos se tocavam. Até que ele recebeu um bilhete com letra redonda, desenhada, perguntando se ele aceitava um encontro. No outro dia, entregou o prato, recebeu o toque de dedos e fez que sim com a cabeça. Chegou outro bilhete com o horário e local do encontro.

Em casa, antes de sair, exercitou-se provocando três ereções seguidas olhando pro aquário. Daiana veio perfumada, de mini-saia e olhos brilhantes. Foram a uma lanchonete com mesas na calçada e pediram cerveja. Mais tarde foram ao cinema. No escuro (sem querer?) a mão de Daiana resvalou para o colo do Yug. A resposta veio imediata. A loura suspirou fundo e segurou. Na saída convidou-o para ir ao seu quartinho, simples, mas bem arrumadinho. Ela cobriu o abajur com um pano cor-de-rosa e perguntou se ele gostava um pouquinho dela. Yug se afastou dois passos, e abaixou o zíper da calça, mostrando um SIM majestoso. Deitaram-se.

Yug mostrou a que viera: fez tatu-bola, carrossel selvagem, pião-de-quatro, deixou a pobre moída. Daiana ainda perguntou: e você, não goza? Altivo, Yug disse que não, que o gozo faz o homem escravo do seu desejo. Ele era senhor das suas vontades, das suas emoções. Não podia gozar. E foi embora.

Em casa saiu do banho com a toalha enrolada na cintura. Passando pelo aquário deixou cair a toalha, e sem qualquer esforço fez o pau subir e baixar três vezes. Satisfeito, deitou-se de costas na cama, fechou os olhos, e no refugio do sono escapou daquela vida entre parênteses.
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