A
COESÃO
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Fernando
Zocca
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Bem, ele
sabia perfeitamente que se tentasse conseguiria. Tudo estava a seu favor.
E não era por falta de libido não. O tesão existia, era muito forte. Mas
será que depois as conseqüências não seriam demolidoras? Era por acreditar
nessa hipótese que tudo ficava do jeito que estava.
Os interesses envolvidos eram importantíssimos. Tinham mais força do que uma simples ligação sexual passageira. Por isso não se poderia deixar levar pelas ondas e marolas dos intencionados. Mesmo que aquela velha angústia vital se apoderasse de sua alma a todo instante. Ela ainda estava gostosona. A vida principesca que lhe propiciara o primeiro casamento lhe fizera tão bem que seu aspecto físico era de uma dama sofisticada freqüentadora das altas rodas sociais. Sua pele de princesa, suas mãos bem cuidadas evidenciavam o aprendizado das boas técnicas que somente os afortunados conhecem. Com os automóveis importados economizara desgastes nos membros inferiores. Tinha pés lindíssimos. Os tornozelos atraentes e as pernas luxuriantes. Agora, depois do rompimento causado pela morte súbita do marido, descera alguns degraus na escala social. Mas mantinha a formosura. Sua aparência contrastava com a dos demais vizinhos. Provocava certo mal estar, certo constrangimento aquela boniteza toda. E não faltava oportunidade para os que se sentiam inferiores lançarem seus comentários de desprazer. Dentre as suas lembranças estavam a do marido usineiro que considerava as companhias de petróleo responsáveis pelo seu fracasso na indústria do álcool combustível e que por isso não teriam nenhum sucesso na instalação de termelétricas no interior. Mas, bem que ele gostaria de estar deitadinho ali na sua cama, depois de uma cavalgada de amor. Não era por medo ou covardia, ou por desconhecimento do que se passaria depois das conexões, que ele se mantinha distante. A pudicícia tinha por condão manter a família unida. Por maior que fosse o tesão, mais importante era a coesão familiar. Os filhos ante o exemplo não teriam motivos para debandar e justificativas para degringolarem em atos anti-sociais. O sacrifício era grande. Sabia-o por certo. Nesse conflito entre a luxúria e a manutenção da família, preferia permanecer com a segunda alternativa. Mesmo que fosse a mais difícil. Era assim, do jeito que sempre tinha sido. |
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