PARÊNT(ES)ES
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Bárbara
Helena
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Alfredo,
Depois de tudo que a tua mãe me fez, tu ainda tens coragem de perguntar porque estou de tromba com ela? E tinha que contar pra velha aquela história da caixa de bombons que voou pela janela? É evidente que a megera veio me cobrar a linda testa quase quebrada do filhinho dela. E espalhou para todo bairro como foi que ela caiu do céu e aterrisou direto na cabeça da pobre senhora, nossa vizinha. Se a minha mãe não fosse amiga da Dona Eudóxia, a esta hora eu estava mesmo na cadeia que você freqüentou tanto, meu amor. Tua mãe sabe muito bem que eu não fiz de propósito. Nunca pensei em acertar você, Alfredo. Foi efeito da lei da gravidade, seguido ao impulso de atirar para bem longe de mim aqueles quilinhos futuros que teimariam em se acumular nos meus quadris. Se a janela estava no caminho, é uma fatalidade que só o destino explica, meu amor. O PS devia estar no carma da coroa. E antes que eu me esqueça: gordinha é a senhora sua mãe. Que ainda teve a cara de pau de perguntar se eu estava grávida, só pra insinuar sobre o tamanho da minha barriga. Logo ela que parece estar prestes a dar à luz!... Mas sobre a tua velha ninguém tem dúvida, porque não tem mais idade nem físico para os esportes do amor. A megera não bate prego sem estopa, coração. Não fala nada na minha frente, tudo bem. Mas eu bem sei que, por trás, meu nome está mais sujo do que a tua boca nas conversas com os amigos do Bar do Mirandão. Também tenho amigos, Alfredo e fofoca não para na lingua dos vizinhos. Como é falsa a tua mãe, minha vida! Diz que está louca para ter um netinho! Que mentira safada! A última coisa que ela quer na vida é te ver amarrado comigo, com uma criança nas costas dela, porque trabalho que é bom nunca foi coisa que encarastes com simpatia. E ainda por cima, o idiota do teu irmão veio cheio de insinuações por causa do português da padaria. Como se não tivesse a testa mais enfeitada de toda Santa Cruz e adjacências. Conheço tua cunhada de outros carnavais. Não gosto de falar mal da próxima, mas se teu irmão me disser mais uma graça, vou contar a história da mulher dele em quadrinhos e pode tirar as crianças da sala porque é mais do que imprópria pra menores. Aturo a tua irmã chorando no meu ouvido a triste história interminável dos seus amores impossíveis. A piranha da tua cunhada, o imbecil do teu irmão e a fingida da tua velha. Mas tirando essas coisas, Alfredo, até que a gente se dá bem. Afinal, se não fosse pela coroa ter sofrido tantos anos na mão do sem-vergonha do teu pai, tu não estarias aqui me aprontando todas, mas me deixando louca nas noites do nosso amor. Na cama ainda és imbatível, meu tesão. Ah, moreno, parentes são como a chuva, não se pode evitar, tem que se proteger. Por duas semanas deu pra agüentar a tua mãe. Mas, se hoje mesmo não fizeres as malas dela para voltar lá pro buraco onde se esconde, eu juro, coração, nosso parênteses vai virar ponto final. |
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