Tema 034 - LABIRINTO
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O MICROTAURO
Roseli Pereira
Na primeira vez que ouvi falar em ressetar a pram eu confesso que me senti ofendida. Sempre havia resolvido os impasses do meu micro pelo método arborígene, e me recusava a ouvir e a compreender determinados palavrões.

O bicho travava, eu tirava o plug da parede e colocava de novo. Simples assim. Até que ele começou a achar que eu poderia ir mais longe - ou talvez que as coisas estivessem ficando fáceis demais pro meu lado - e decidiu passar para a próxima lição. E a inocente aqui comprou a briga e aprendeu a resolver conflitos de extensões, a buscar informações perdidas em arquivos nunca dantes navegados, a alocar mais memória pra cá e pra lá, a dar primeiros socorros em geral e a perder noites de sono pra recuperar horas de trabalho. Até porque, cá entre nós, eu não conseguia nem pensar em entregar o jogo pruma simples maquininha.

Foram várias lições até chegar na danada da pram, que até hoje eu só sei ressetar, mas não sei nem o que quer dizer. Aliás, nem sequer vou aprender. Porque depois dessa ele vai querer me aplicar mais alguma. Naturalmente mais complicada ainda.

E não adianta vir com essa história de amadurecimento pessoal, porque esse sujeitinho através do qual vos falo tem personalidade própria, mesmo. E é um tremendo insensível, apesar da aparência sofisticada e dessa expressão alegre de eletrodoméstico quando abana o rabinho. E, além de tudo, está mal acostumado. Como eu nunca soube impor limites, hoje, quanto mais a gente dá, mais o bichinho quer.

Bem, eu não pretendo semear a discórdia na sua mesa de trabalho e nem colocar minhocas na sua cabeça… mas você já olhou bem para a cara do seu micro? E ele não te lembra nada, não? Então vamos tentar juntos: ele fala grego, quanto mais você tenta conhecer, mais você se perde, e ainda por cima tem um monstro escondido lá dentro. Que, aliás, sempre dá um jeito de engolir as suas pastas mais importantes sem dó, sem piedade e sem qualquer explicação.

E agora? Caiu a ficha?

Pois é, meus amigos, depois de anos e anos de completa insanidade, finalmente estou convencida de que o micro é uma entidade muito séria. Talvez ainda mais perigosa do que aquelas que apareciam quando a gente fazia a brincadeira do copo. Porque, pelo menos, na tal da brincadeira não tinha dinheiro envolvido. E o máximo que a gente conseguia quebrar era um copo.

Por isso, se você não quiser ir à loucura, ouça a voz da experiência e não se meta muito com ele. É só se fazer de besta. Ou simplesmente relaxar e começar a acreditar em dogmas. Como, por exemplo, "isso acontece… são coisas de computador".

Afinal das contas, já que a questão é ficar perdido, que seja na ilha de Creta. Onde pelo menos tem mar, praia, sol e cerveja, e onde a gente é capaz de se fazer entender. Nem que seja na base da mímica.

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