40
ANO NESSE LABIRINTO
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Luiz
Fernando Kiehl
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Faz mais de 40 anos que estou vagando, para lá e para cá, dentro deste labirinto cheio de ruas, alamedas e travessas que se cruzam confusamente, de um modo intrincado. Sem falar nos becos sem saída que a toda hora me obrigam a voltar sobre os meus passos. Chego a ficar com a impressão de que já passei várias vezes nos mesmos lugares, repetindo os mesmos roteiros. Não sei quem me colocou na entrada e muito menos para quê. As pessoas que encontro o tempo todo nessas minhas andanças, também não sabem, mas dizem estar à procura do centro dessa barafunda de caminhos, onde fica uma tal de felicidade. Ninguém sabe direito como ela é, mas acreditam que deve ser maravilhosa porque quem chega lá quer ficar para sempre e, até hoje, ninguém voltou para descrevê-la. Alguns me disseram que eu precisava ler muito, pois é nos livros que se encontra mais facilmente o caminho para chegar lá. Perdi um tempão lendo tudo o que me caía nas mãos e continuo na mesma. Outros me aconselharam a escolher uma mulher entre as muitas que cruzam conosco nessas andanças, pois em duplas é mais fácil de encontrar o caminho. Tenho de reconhecer que, depois que arranjei uma parceira, a minha busca ficou bem mais agradável, mas também já percebi que ela está tão perdida quanto eu. Talvez eu tenha escolhido justamente uma que não tem senso de orientação. Os que estão presos aqui há mais tempo contam que um velho barbudo tentou explicar que, procurando cada um por si, não iria adiantar nada e que essa busca só funcionaria se uns ajudassem aos outros, trabalhando em equipe para chegarem todos juntos no objetivo. Entretanto, parece que as pessoas não se convenceram disso e continuam a tentar sozinhas, pouco se lixando se os outros vão chegar também ou não. Não é raro encontrarmos pessoas que desistiram de procurar e resolveram se sentar num canto qualquer para ficar admirando as nuvens que passam lá em cima, muito além das altíssimas paredes que nos cercam. Elas acreditam que esse labirinto complicado surgiu pura e simplesmente por obra do acaso e que, portanto, todos os caminhos levam a lugar nenhum. Outro dia, cruzei com um cara que me disse ter finalmente encontrado onde fica a felicidade. Para minha surpresa e decepção, ele contou que lá é o maior tédio, pois nunca acontece nada. Tanto que ele logo resolveu ir embora e estava tentando achar o caminho de volta. Havia descoberto que o grande barato é a própria busca e pouco importa se a gente encontra ou não o que está procurando. Mas, depois de 40 anos zanzando neste labirinto, eu achei que o cara estava querendo me gozar. |
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