PUDIM
DE LARANJA
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Roseli
Pereira
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Basta dar uma olhada no
cardápio literário nacional para notar que pudim é coisa muito importante
em vida de cronista. Especialmente se for pudim de laranja.
Meus gaúchos preferidos, pelo menos, vira e mexe tocam no assunto: o consagradíssimo Luis Fernando Veríssimo e o talentosíssimo Ricardo Freire, que já está chegando lá. Um é apaixonado, outro odeia de paixão. Tudo no superlativo, mesmo. E eu, que quero ser que nem eles quando crescer, não tenho opinião formada sobre o assunto. E nem posso, já que nunca experimentei. Não experimentei e nem vou, porque tenho um medo danado de descobrir no pudim de laranja o sentido da vida ou, quem sabe, aquele gostinho besta de desfaçatez. Pois é. Se eu provar uma fatia sequer de pudim de laranja, vou ter que tomar partido. Não que qualquer um deles (ou qualquer um de vocês) esteja minimamente interessado na opinião dos meus humildes corpúsculos gustativos. Mas como poderei ler Luis Fernando ou Ricardo imparcialmente, depois? Como poderei me abandonar e me deliciar com as escritas dos dois, se descobrir a verdade e acabar de vez com a polêmica sobre o pudim? Já pensou? Eu lá, nas primeiras linhas, começando a me identificar com um texto e, de repente, a censura universal brota do meu inconsciente: ah isso só pode ser coisa de quem ama/odeia pudim de laranja. Ou: ah se esse sujeito ama/odeia pudim de laranja, não pode estar tão certo assim. Tá vendo? Se eu provar pudim de laranja, só vou conseguir mudar os conceitos de prazer e desfaçatez de lugar. Eles vão sair do papel só pra me fazer cosquinhas. Só pra eu nunca mais conseguir me identificar plenamente com um dos dois. Por isso, não provar pudim de laranja é uma decisão séria na minha vida. É uma decisão consciente. Político-filosófica, digamos assim. Como? A senhora num tá entendendo nada? Ah, desculpe, tia Eu sei que o pudim tá lindo! O cheirinho também tá muito bom Mas sabe o que é? Eu comecei aquela dieta ainda ontem e não posso facilitar Não fica chateada não, tia. Me perdoa e muito obrigada, tá? |
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