DESCULPE,
D. AMBRÓSIA
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Roseli
Pereira
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Tudo começou quando parei
um pouco a fita em que havia gravado o episódio da semana de Jornada nas
Estrelas - A Nova Geração. Fui até a cozinha, preparei um delicioso macarrãozinho
na manteiga e voltei para o quarto, com o prato na mão.
(Pronto. Depois de uma semana inteira de jejum literário, eu mal começo a escrever e você já descobre as minhas três piores taras: Jornada nas Estrelas, macarrão a qualquer hora e comer no quarto, com a cara enfiada na televisão. Mas como só ligo o computador pra falar das taras alheias, voltemos à vaca fria.) Sentei na cama, coloquei o prato sobre os joelhos e dei uma olhada no filme que estava passando, enquanto a mão procurava o controle remoto debaixo do cobertor. Parecia ser um filme romântico. Cenário bonito, uma moça toda vestida de branco, flores no cabelo. Talvez fosse uma noiva na primeira noite da lua de mel. A moça levou um pequeno cálice aos lábios e tomou um gole do que quer que estivesse lá dentro. Seus olhos brilharam. Uma expressão maravilhada. Aí a moça afastou o cálice dos lábios e falou mansamente, em português: "Delicioso até parece Ambrósia. Peralá. Ambrósia? Será que ela tava falando daquela senhora que é vizinha da minha tia? Não, acho que não. Mesmo porque a D. Ambrósia não leva nenhum jeito de ser deliciosa. Pelo menos pro meu gosto. Bom, eu simplesmente me nego a discutir quem acha quem uma delícia. Mas convenhamos que estragar uma cena dessas com um sonoro "Ambrósia" também já é demais. O autor deve ter enxaquecas horríveis cada vez que exibem o tal filme no Brasil. E não é fato isolado! Você mesmo já deve ter sido premiado milhares de vezes com "compartir" e outras bobagens afins. Não apenas em filmes como também em vinhetas de programação da TV por assinatura. Mas, ainda que seja um baita desrespeito ao consumidor - e olha que o nosso mercado já tá grandinho o bastante pra merecer um tratamento mais jeitoso - você há de convir comigo que "compartir", diante desta Ambrósia toda, virou um compartirzinho de nada. Um enganozinho besta daquele tradutor diplomado em portunhol. E daquela emissora que esqueceu de tirar do ar. E da gente, que ficou com essa com dor no ouvido por meses a fio sem dizer uma palavra. Tudo bem. Vamos compartir a culpa e encerrar esse assunto. Só que alguém vai ter que dar um jeito na tal da Ambrósia. A não ser que eu esteja redondamente enganada, e que a redução da quantidade de Ambrósias no mundo se deva unicamente ao fato de os deuses se alimentarem delas. |
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