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"SOPA DE PEDRA"
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Paulo
Panzoldo
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Contam que em Londres vivia
um mendigo que batia à porta das casas carregando um prato vazio e uma
pedra. Numa casa pedia: "Será que senhora poderia me arranjar um
pouco d'água quente, para eu esquentar minha sopa de pedra?" Quando
a senhora vinha com a água, ele emendava: "Não teria aí a senhora
uma batatinha, para engrossar o caldo?" E vinha a batata. "E
uma cenourinha, pra dar um gostinho?" Lá vinha a cenoura e, de quebra,
um pedaço de carne. Ele agradecia e, virando a esquina, sentava-se na
calçada, jogava fora a pedra e degustava a deliciosa sopa. Essa história
se transformou em tática militar durante a Segunda Guerra Mundial.
Um General americano - George Patton - utilizou-a justamente contra os ingleses numa corrida entre os dois países para chegar primeiro à Sicília. Patton enviava um grupo de reconhecimento à frente, mas contrariando todas as lições clássicas da guerra, o grupo nunca voltava: avançava sempre! Quando o combustível de alguns blindados atingiam um terço, Patton ordenava que o que sobrasse de gasolina completaria os tanques de igual número de blindados, bem como aproveitava o combustível dos blindados que eram deixados para trás por defeito mecânico ou outro problema qualquer. Quando restava a metade do combustível desses outros tanques, esvaziava a metade deles e completava a metade restante. O objetivo não era destruir as já debilitadas forças do Eixo, era chegar à Sicília antes dos ingleses. Enquanto isso, Motgomery, comandante das tropas inglesas, tentava chegar por outra direção, seguindo a cartilha militar. O inglês aguardava o retorno do grupo de reconhecimento, parava aguardando a chegada de mais combustível e sua marcha foi lenta o suficiente para ser recebido pelo próprio Patton, na Itália. Nos anos 80 a história que se transformara em tática de guerra, transformara-se também em estratégia de marketing. Durante longo período, o "marketing de guerra" foi utilizado, incluindo-se aí a "Sopa de Pedra", que funciona muito bem na mão de bem-intencionados prestadores de serviços. Repito: bem-intencionados, que prestam um pequeno serviço a um grande cliente em potencial, um outro serviço maiorzinho amanhã e, afinal, o grande e objetivado serviço que irá criar centenas de empregos e gerar prosperidade. Basta ter a capacidade para instalá-la, aos poucos, indo de encontro às necessidades do cliente, antes que ele as expresse, antes que "o grupo de reconhecimento retorne". Com o advento do "marketing político", onde vencer as eleições é o real objetivo, as campanhas eleitorais não são baseadas num programa de governo a ser levado a sério, mas apenas e tão somente para vencer a corrida eleitoral, muitos de nossos políticos têm adotado a "Sopa de Pedra" como plataforma. Oferecem-nos um prato com uma suculenta sopa durante a campanha. Se eleitos, vão comendo a batata, depois a cenoura, a carne... viram a esquina, bebem o caldo que sobrou e ali abandonam o prato e uma pedra que tiram do bolso para que possamos, sem resistência, sobreviver até as próximas eleições. Como mendigos. |
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