NA
CONTRAMÃO
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Tarciso
Oliveira
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Uma dor intensa faz Paulo
acordar. Ele percebe de imediato que o quarto está escuro e tenta se levantar
para acender a lâmpada. Mas a dor volta. Ele não identifica a origem da
dor que parece estar em todo corpo. E é isso que ele descobre durante
outra tentativa de movimento.
- Droga! diz em voz alta. Ao mesmo tempo em que grita, sente no maxilar uma pontada qual a perfuração de um punhal. Ele tenta levar a mão ao rosto, mas ambas estão presas. Tudo ocorreu em uma pequena fração de segundos. - Calma, Paulo. Não se preocupe! Eu estou aqui, ao seu lado... - Mamãe? - Sim, meu filho. - Meu corpo todo dói. Você poderia acender a luz? - A luz já está acesa, querido. - Eu não consigo ver nada! Meu deus, eu estou cego! - Não querido. Você não está cego. Você está apenas com uma atadura nos olhos. - Por que esta atadura? Ele tenta novamente levar as mãos ao rosto, mas sente as mesmas dores sentidas antes. Desesperado, ele grita: - Quem amarrou minhas mãos? - Calma, meu filho! Suas mãos não estão amarradas. Os seus braços é que estão engessados e imobilizados temporariamente. - Droga! O que está acontecendo, mamãe? Por favor, me diga que eu estou sonhando... - Infelizmente você não está sonhando, meu filho. - Ai, como dói minha cabeça! Mamãe, sinto um formigamento no meu rosto. Você poderia coçar? - Claro, querido. Qual é o lado? - Direito. - Assim está bom? - Um pouco mais embaixo, perto da boca. Aí, sim, agora está bom. Obrigado, mãe. Paulo sente agora que a dor não se dissipara, mas está suportável. Tenta lembrar-se do que aconteceu, não consegue. - Mamãe, o que aconteceu? - Você não lembra, Paulo? - Não. Não lembro de nada. Aliás, eu lembro que saí para a casa da Aninha. Iríamos comemorar o aniversário dela... - Isso faz dois dias... - Você que dizer que eu estou assim há dois dias? - Agora você está melhor, querido. Antes você estava inconsciente na UTI. - UTI? Mamãe o que realmente aconteceu? Onde está a Aninha? Por que ela não está aqui? - Querido, eu sinto muito... A Aninha faleceu, não teve a mesma sorte que você. Ele não conseguia acreditar no que sua mãe lhe dissera. Sua noiva Aninha estava morta! Tentou novamente lembrar-se da noite da festa. Ele fora à festa da noiva com o seu irmão Guilherme, cantaram o Parabéns a você e ficaram bebericando no jardim da casa dela. Realmente bebera em excesso, mas o Guilherme era quem estava dirigindo o carro desde a saída de sua casa. Súbito, ele pára com a reflexão e dirige-se à mãe: - Mamãe, e o Guilherme? - Seu irmão também está morto, querido diz sua mãe, aos soluços. Ele ouve o soluçar da mãe e também cai no choro. Guilherme era seu único irmão, um ano mais novo do que ele, tinha apenas dezenove anos de idade. Ele se tortura e se culpa por ter deixado o Guilherme dirigir o seu carro. Ainda não lembrava do que acontecera, mas as evidências não deixavam dúvidas que ocorrera um acidente automobilístico o qual envolvera ele, sua noiva e seu irmão. - Mais alguma má notícia, mamãe? - Infelizmente, ainda tem querido. - Diga-me tudo, por favor! - A Juliana, namorada do seu irmão, também está morta. Ela estava com vocês quando... E também mais uma pessoa que estava no outro carro, que não conhecíamos... A mãe de Paulo não consegue terminar a frase, desaba num choro comovente. Paulo percebe que existe uma outra pessoa com ela. - Quem está aí com você mamãe? - Sou eu, Paulo. - Papai... - Um minuto só, filho. Eu vou levar sua mãe lá fora. Ela está muito abalada com os últimos acontecimentos. O pai de Paulo retorna após alguns minutos. - É você pai? - Sim, sou eu. - Como aconteceu tudo pai? Eu não lembro de nada. - Nós temos a versão do motorista do veículo que vocês estavam ultrapassando na hora do acidente. Segundo ele, antes de completar a ultrapassagem, numa curva, o carro de vocês chocou-se com um outro veículo que vinha em sentido contrário... - Meu deus! Que coisa horrível! - Segundo os médicos, é um milagre você estar vivo... - Eu amava muito o Guilherme, papai. Mas sempre o achei imprudente no trânsito. Se ao menos eu estivesse sóbrio eu não teria permitido que ele fizesse a tal ultrapassagem arriscada. - Não era Guilherme que dirigia o carro, filho. Era você. |
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