A
CORRENTE
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Eliana
Pace
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A voz simpática do outro
lado da linha tenta me transportar de volta ao passado:
- Estudamos juntas na faculdade. Quem me deu seu telefone foi a Bilu. - Sei... - Eu sou a Silvia, lembra de mim? - Não... - Eu era da turma da Isabel... - Ah... - Outro dia fizemos 30 anos de formadas. Não pude ir ao encontro. - Que pena... - Estava pensando em almoçarmos juntas, eu, você e Bilu... Anoto na agenda um nome e um sobrenome que não me dizem nada, um telefone para contato e retorno aos meus afazeres. No dia seguinte, a colega volta a chamar. - É a Silvia... - Sei... - Quando é que podemos almoçar juntas? - Vamos ver, tenho uma vida muito agitada. O que é que a Bilu combinou com você? - Não combinou nada, só me deu seu telefone e disse para nós marcarmos o almoço. Ela aparece se der. Desligo o telefone com vontade de estrangular a Bilu por ter dado meu paradeiro para alguém que não vejo há 30 anos, que nem fazia parte do meu grupo mais chegado de colegas e com quem nem sei o que falar. Mas, domino meus sentimentos assassinos e volto ao projeto que me prende ao micro. - O telefone de casa toca bem no meio da novela preferida. Atendo com certa má vontade e é ela do outro lado da linha. - Aqui é a Silvia... - Sei... - É que a Bilu vai viajar, não vai poder almoçar conosco, vamos só nos duas. - Sei... Mas , como você é mesmo? Loira ou morena? - Na época eu era loira. - Ah, seguiu a profissão? - Não, me casei, morei fora do país por muitos anos, também morei no Sul, faz dois anos que voltamos. Tenho três filhos casados e você? - Eu tenho um cachorro... - Ah, meus filhos ficaram morando no Sul... - O cachorro mora aqui comigo... Nos dois dias que se seguem, tento dar tratos à bola. Por que essa procura ansiosa 30 anos depois? Se ela está querendo emprego, não tenho indicações. E se quer matar saudade da época, por que não procura a Isabel, que era do grupo dela? O que tenho para conversar com alguém de quem não tenho qualquer referência? Se nem da mesma turma de estudos éramos... Se ainda fosse a Isabel no telefone, a conversa fluiria mais fácil, com certeza. Mas quem era essa Silvia? - Oi amiga, é a Bilu, tudo bem? - Olá, já voltou de Milão? Como foi de viagem? - Divino, correu tudo às mil maravilhas. Tenho montes de coisas prá te contar. - Bilu, quem andou me ligando foi Silvia, diz que estudou conosco na faculdade, você deu meu telefone para ela? - Ah, ela andou me procurando, não sei como conseguiu me encontrar, disse que queria matar a saudade da turma. Também não lembro dela.... - Eu mato você, Bilu, essa mulher não desgruda mais do meu pé. - Não encuca, ela também tentou fazer isso comigo, mas como eu ia viajar passei a ela os telefones de alguns colegas. Mas olha, não rompa a corrente não. Complemente a lista com outros contatos que logo ela está amolando outro... |
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